sábado, 22 de junho de 2013

Crisis

 
 
 
Everything is condensed into one single moment,
it decides our life Franz Kafka.
 
The best indicator of a chess player's form is to detect the climax of the game - Spassky.
 
Crisis really means a turning point, a critical moment when the stakes are high and the outcome uncertain. It also implies a point of no return.
This signifies both danger and opportunity…
 
 
 

domingo, 9 de junho de 2013

O medo

 
O medo é, seguramente, uma das mais sublimes alquimias da alma. Com incontáveis virtudes.
Falo do verdadeiro medo: não de meros receios (os quais, por serem pequenos – e votados ao simples instante –, não têm a nobreza da perenidade do medo), ou do pavor (cuja natureza estridente o desfalca das qualidades indispensáveis para ser mais do que uma emoção). Muito menos falo do temor a alguém.
Refiro-me, pois, a ter medo (não a “estar com medo”) – tranquila e efectivamente, sem pejo em admiti-lo, como é monopólio de quem é inteligente. E, sobretudo, corajoso.
A diferença reside em somente “estar com medo” de partir, porque se pode, daquela vez, não voltar, ou ter, tão-só, medo de partir, sem mais (afirmando, se preciso for, que se tem o prazer de ficar).
Das coisas que mais me enternecem nesta vida são as tiradas dos que, solene e enfaticamente, declaram que nunca têm medo – de coisa alguma, jamais.
Os que melhor se exercitam neste embuste (cara-a-cara ou com plateia) costumam fazê-lo olhando-nos nos olhos. E o impacto é, quase sempre, considerável, variando apenas em função do talento do intérprete. Tudo mercê do poder de sedução da inexistência do medo. Não só porque todos temos medo, mas também porque nos ensinaram, insistentemente, que a ausência dele é requisito da perfeição.
Eu sorrio.
Não por ter assistido, em alguns casos, a um exercício de desonestidade. Mas por saber que, quase sempre, acabei de testemunhar um simples grito de revolta e de desespero. De alguém para quem o medo é particularmente insuportável, graças ao medo de o encarar: por ter medo de ter medo – coisa que, honestamente, nunca senti.
 
Sem surrealismos, começo pelo medo de crescer.
Sim, crescer. E descobrir, um dia de cada vez, que deixaram de ser responsáveis por nós. Que as nossas criancices e os caprichos delas já não têm porto seguro. E que, agora, já cuidamos de outros. Que vão crescendo também.
Crescer é também ser livre.
E da liberdade também se tem medo, a menos que não se entenda a maravilha que é dela fruir: medo do fascínio pelo devir da permanente escolha; do travo amargo das consequências; da adrenalina do passo a mais; do beijo que se quis que ficasse para a próxima vida.
Não concebo também que não se tenha medo da perda – da perda do outro. Do corte irreversível com o que é parte de nós. E da certeza de que, no limite, restará ninguém.
Há também quem tenha medo de se sentir feliz. Desse desnudamento. Como se a felicidade disso dependesse e se escapasse, como que por entre os dedos, mal dela damos conta.
Há ainda os que têm medo de amar. De se entregarem. Por temerem ficar reféns dessa dádiva.
Eu tenho medo da insanidade: da impossibilidade de voltar a cair em mim. E, tantas vezes, da crueza da verdade.
Mas não tenho medo de “ter medo”.
Nunca terei, enquanto fugir da desumanidade. E enquanto correr, bem vivo, todos os dias, para superar o medo.
Hugo Fonseca
Junho de 2013