sábado, 18 de outubro de 2014

Yukio Mishima


http://theculturetrip.com/asia/japan/articles/yukio-mishima-a-conflicted-martyr-/

A César o que é de César (Duarte Marques)

Já aqui zurzi Duarte Marques uma vez (ver link). Em rigor, não Duarte Marques, propriamente, mas o que ele representa.
E continuarei - quando me apetecer - a zurzir (o que nesse texto zurzi), coisa que é irrelevante (sobretudo para ele, mas também para mim), senão pelo facto de constituir uma das últimas promessas que deixarei de cumprir.
 
Dito isto, há uma evidência que quero assinalar.
Quem escreve o que Duarte Marques escreveu no Expresso (ver link) - e sobretudo porque não tinha que o escrever - não pode ser um quadrúpede. Bem ao contrário: tem que ser decente.
 
Já sei que as teorias da conspiração vão encontrar mil razões para que Duarte Marques tenha escrito o que escreveu (basta, aliás, ver as caixas de comentário abertas abaixo do seu artigo para encontrar o ódio destilado do costume).
Mas há um detalhe (e é realmente nos detalhes que Deus e o Diabo estão) que evidencia a decência a que me refiro: a referência expressa à incapacidade de Duarte Marques para tratar Fernando Sousa por "tu".
 
Fiquei esclarecido.
Não gosto da prosa de Duarte Marques. Mas, pelo vistos, gosto nele de alguma coisa que, seguramente, é mais importante.
 
 
 
 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Portugal e a álea das coisas



Costumamos dizer que não somos um "país a sério".
Essa é também uma das várias modalidades da autocomiseração nacional. E deve ser verdade, o que torna tudo ainda mais divertido e, sobretudo, mais emocionante.
 
Diz-se que na política, no humor, e na economia, o timing é decisivo. Ora, nisso - nessa coisa a que chamam timing -, estamos provavelmente perto da perfeição. Caso contrário, já não existiríamos como país.
 
É certo que, em Portugal, se sai de casa de cravo na mão "a horas certas", como disse um dia José Mário Branco. Sempre foi assim. Afinal, "o povo é sereno" (como bradou Pinheiro de Azevedo).
Mas isso não destrói a álea a que, maravilhosamente, entregamos as coisas. E que quase sempre nos tem sorrido.
 
Pelo que tenho visto, nos países que, hoje, são "a sério", não se sai de cravo na mão "a horas certas". Não. O que acontece é que, pura e simplesmente, não se sai de casa. Porque pode chover. É mais sensato, mais eficiente, não se sair de casa e, por isso, é lá que se fica. Regra geral, claro, porque há também os exemplos dos que resolvem sair de casa com violência (o que - já se viu - não é para nós).
 
Admirável e inteligentemente, é de tudo menos de eficiência que o português se lembra quando cogita sair de casa (mesmo que seja "a horas certas"). E muito bem.
O português sabe - porque é naturalmente sagaz - que a economia, sempre ineficiente, nunca vai estar "bem": o máximo que se ambiciona é que esteja "menos mal". É, aliás, isso mesmo que se ouve na rua quando alguém pergunta "como vai?", o que é expressão da lucidez (outra coisa muito nossa e que nos costuma fazer andar de cara fechada) de quem sabe que as coisas nunca correrão espantosamente bem.
O ponto, porém, é que isso pouco importa - e nós sabemos.
 
De tempos a tempos, tentam vender-nos que temos o pastel de nata. E nós encolhemos os ombros e metemos à boca mais um. Mas sabemos que o pastel de nata é e será irrelevante para o PIB. E então?
É também por ser despiciendo para o PIB que o pastel de nata é tão bom. E é por isso que pedimos outro mais.
Claro que num país "a sério" haveria estradas e viadutos rodeando imponentes centros de produção (para exportação, claro) de pastéis de nata normalizados. Mas estradas já nós temos e consta que até são melhores do que as dos Estados Unidos. Vão demorar a pagar, são demais, mas são "nossas". Em suma: pouco importa.

Também nos dizem, de vez em quando, que somos os "melhores do mundo" em várias coisas.
Talvez já tenhamos sido, em tempos, no hóquei em patins. De resto, somos bons em muita coisa, mas não somos os "melhores do mundo" em coisa alguma. Não há, portanto, razões compreensíveis para choques ou depressões.
- Ai que a nossa Polícia Judiciária é a "melhor do mundo"; ai que o nosso serviço nacional de saúde é o "melhor do mundo"; depois, durante uns anos, era aqui d'el rei que tínhamos uns bancos dos "melhores do mundo".
Nunca foi verdade. E nós sempre soubemos.
Mas a pergunta é: e daí?
A verdade é que pouco importa. Não somos - nunca fomos - os "melhores do mundo", mas não somos, acaso por mera sorte, os piores do universo. O que é fantástico, dada a nossa pequenez e escassez de recursos.

O que verdadeiramente interessa é que, nos países "a sério", não se atravessa a rua porque o semáforo está aceso no vermelho, mesmo que sejam cinco da manhã e não haja carros num raio de 5 Kms - "é a lei", dizem. Em Portugal, atravessa-se tranquilamente a rua nestas circunstâncias. E ainda bem. Muito simplesmente porque se sabe, quase sempre, perguntar "porquê".
Acho, sinceramente, que não precisamos de muito mais.
Temos sol (bem sei que tem chovido bastante...) e come-se bem (também é mentira que a nossa cozinha seja, ao menos objectivamente, a "melhor do mundo", mas enfim). E há ar que se respira bem, que é coisa que, depois de se estar longe, se aprende a valorizar.
Há mar, montanha, planície. Há praia e até há neve. Que não são as "melhores do mundo", nem tinham que ser. São apenas bestiais.
Há, na verdade, um pouco de tudo, num espaço espantosamente pequeno - o único, porventura, que conseguiríamos gerir, o que é também obra de uma álea sempre benevolente para connosco.
E há uma liberdade incrível, que insistimos em esquecer-nos que só existe em redutos mínimos do globo: escreve-se o que se quer. Bem, mal, asim-assim, contra quem vier. Diz-se na televisão, de quem quer que seja, o que Maomé não disse do toucinho. Mesmo que seja presidente, primeiro-ministro ou banqueiro. Sem tergiversar - o que é divinal.
Quase sempre, lembramo-nos pouco disto. Do quão mal, ou bem, se pode dizer do que e de quem quer que seja, às horas e no sítio que for. Porque, em Portugal, já estamos habituados. E por causa do PIB, da dívida e da nossa indústria "incipiente", que insistem agora em dizer-nos que são coisa muito mais importante.

Todavia, por efeito da álea que nos bafeja sempre, continuamos, ainda assim, a trazer Euros (poucos, eu sei) no bolso das calças. E a poder deitá-los borda fora, se nos conseguirmos convencer de que isso seria melhor para nós e que o escudo seria panaceia para uma série de males.

Bem sei que esta álea obnubila, farta, e que, às vezes, se quer melhor. Afinal, não tinha que ser tudo como é: os semáforos podiam funcionar melhor.

Também sei que "dizer bem" é coisa de que gostamos menos (e que costuma "vender" pior).
E bem sei que, ainda há pouco, aqui na China, José Gil veio dizer que a "esperança", em Portugal, tinha morrido e que, por isso, o país e as suas gentes definhavam.
Acho que sei o que quis dizer. Mas também sei que uma incrível álea continua a fazer desse nosso país um sítio melhor. E que isso se vê mais claramente de longe, razão por que, porventura, sempre tenhamos saído tanto.

Ao contrário do que nos ensinaram a pensar, a sorte não é sempre madrasta. Só não convém abusar muito dela.

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

1976 - "Estrela da tarde"




Foi em 1976.
Eu não sabia, mas disseram-mo há pouco tempo.
Nesse ano, Carlos do Carmo cantou todas as canções do Festival. Sim, todas. Como que por decreto.

Era ainda um tempo em que estes Festivais tinham uma importância muito particular: afinal, votava-se.

O épico poema (para dizer o menos) de Ary dos Santos e a voz (ainda) imaculada de Carlos do Carmo demonstram, porventura, que a democracia não traz só vantagens.
É que se trouxesse, não seria tão bela.