terça-feira, 27 de outubro de 2015

Habemus governo!

Por quinze dias...

A verdadeira prisão preventiva: a que serve para "prevenir"!

"As consequências de uma eventual rebelião seriam incalculáveis. Isso teria um efeito de bola de neve. Inicialmente, podia parecer que nada acontecesse, mas na verdade tudo podia acontecer e, como se diz, mais vale prevenir do que remediar e, às tantas, não teríamos como remediar

Hélder Pita Grós - Vice-procurador-geral de Angola


A Angola de Zedu

Segundo o "Jornal de Angola", um conhecido pasquim que serve de porta-voz ao governo angolano, “o problema do cidadão Luaty Beirão apenas é um pretexto para fazer ressurgir aquilo que em Portugal sempre se pretendeu: diabolizar Angola” (ver aqui).

Parece, portanto, que há um punhado de coisas que estão por entender.
Façamos um esforço rápido de elucidação.

Em primeiro lugar, a intervenção de Portugal quanto ao caso de Luaty Beirão só padece de um pecado: ser frouxa. Os executivos angolanos (ou lá o que forem) esquecem que Luaty não é só angolano: é também cidadão português. E que, portanto, mesmo que houvesse "ingerências" em assuntos humanitários essenciais, Portugal estaria apenas a expressar-se por... um cidadão seu.

Depois, as luminárias angolanas precisam de perceber uma coisa simples (daquelas que são com certeza capazes de apreender): Angola não precisa de ser denegrida ou "diabolizada" por outrem. Porquê? Porque se denigre a ela própria todos os dias, cobrindo-se de vergonha a todos os segundos que passam.
Por conseguinte, quanto a isto, não há problema algum que os deva afligir. Podem compor as gravatas garridas e prosseguir a pilhagem.

Finalmente, Luaty não tem culpa de o petróleo não valer agora meio pataco.
É tramado, mas vocês merecem.
Só tenho pena dos portugueses que ainda aí estão nesse triste país. E dos angolanos, claro, que nada têm a ver com a chusma de cleptocratas que os dirige, no meio do lixo e do fedor que daí tresanda.

Um dia, que já esteve mais longe, vão ser todos pendurados. É sempre assim, feliz ou infelizmente, que a história acaba.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Luaty, Sócrates e a "coligação"



Este fim de semana, ficámos a saber que Luaty Beirão já vai para lá dos 30 dias de greve de fome.
E ficámos a saber, numa conferência sua sobre "justiça", que José Sócrates se considera um Luaty Beirão exclusivamente português.
Por fim, deu para perceber que Costa escreveu a Luaty expressando-lhe apoio, que o BE quer Luaty solto o quanto antes e que o PC... acha melhor não serem criadas "plataformas de ingerência" em outros países. Pois. Lá e na Coreia do Norte.

Nada de novo, portanto.
Siga.


sábado, 24 de outubro de 2015

Aqui vamos nós: Ferro Rodrigues


Ferro Rodrigues é o novo presidente da AR e a segunda figura do Estado a partir de agora.

Pouco importa, a não ser o sintoma que é.
Ferro foi provavelmente o pior secretário-geral de sempre do PS. A sua chefia da bancada parlamentar do PS na última legislatura (já com Costa a secretário-geral e com condições invulgarmente boas para "brilhar", dada a agressividade generalizada contra o Governo) foi a mais falhada dos últimos 15 anos. Acho, aliás, que Costa lhe deve, em parte, o desastre eleitoral do PS, pela inépcia demonstrada.

Há prémio para isto? Há, claro: toma lá a presidência da AR. É, aliás, um cargo eminentemente institucional mesmo talhado para o perfil de quem já disse que se está "a cagar para o segredo de justiça" - fica impecável.

Mas o problema não é Ferro, que sempre soube anular-se a si próprio. O problema é o que já se percebe que a "maioria de esquerda" no Parlamento vai gerar.
De facto, este deve ter sido o mais inócuo dos males.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cavaco: a maior rajada de sempre



Pedro Santos Guerreiro escreveu, no outro dia, que Cavaco daria agora o seu último tiro. E que esse tiro podia ser em cheio nos pés.

Cavaco não decidiu dar um tiro nos pés.
Decidiu descarregar por inteiro uma AK-47 em cada um dos pés. E à vez.

Vamos por ordem.

1) Cavaco tinha dito (num erro primário a que num "post" anterior já aludi) que exigiria uma solução sólida e estável de Governo. Isso significa uma maioria no Parlamento - o resto é conversa.

2) Na declaração ao país desta noite, Cavaco teve que engolir a exigência anterior. Era previsível. Falar demais dá sempre asneira.

3) Cavaco não quer um Governo de esquerda. Para isso, fez o que tinha que fazer: indigitou quem ganhou as eleições. Até aqui tudo bem (mais ou menos críticas não deixam de fazer desta solução uma solução aceitável e perfeitamente defensável). Isto, claro, esquecendo a exigência antes feita de um governo estável e sólido.

4) Mas Cavaco ignorou o óbvio para qualquer pessoa que perceba um vintém de política. Pior: ignorou o óbvio mesmo que se atenda a quais são os seus "objectivos".

5) Quais são os "objectivos" de Cavaco? O objectivo essencial é evitar um Governo de esquerda. Cavaco não tolera a ideia de sair da Presidência (que lhe correu horrivelmente) deixando no poder um governo de "esquerda". Isso era o epílogo completamente falhado - para ele - de uma carreira política com mais de 20 anos (ministro das finanças, primeiro-ministro e, finalmente, PR).

6) Mas o que entendeu por bem dizer Cavaco, hoje à noite, para servir o seu "objectivo"? Duas coisas essenciais: a) que indigitou Passos para formar Governo (o que é defensável e ninguém poderia criticar acerrimamente, fora argumentos de "perda de tempo" que não têm sentido); b) que considera inaceitável a formação de um Governo que congregue forças políticas contra o Euro, a NATO e os tratados europeus em geral. Resultado: o mais que previsível chumbo do Governo de Passos pode gerar um governo de gestão, que Cavaco parece preferir (pesem embora todos os inconvenientes) ao tal "governo de esquerda".

7) Deixei aqui de fora até agora, propositadamente, o apelo - pouco velado - aos deputados do PS para que se rebelem contra as opções de Costa. Mas já lá irei.

8) O efeito óbvio da declaração de Cavaco é só este: Costa rejubilou. Era difícil ter gerado um clima tão propício para que Costa saísse reforçado. Sabendo que já quase ninguém o tolera, Cavaco tinha só que fazer isto: indigitar Passos, aludir à tradição de 40 anos de convidar a força política mais votada para formar governo e... mais nada. Repito: nada mais! Zero!

9) Porquê o ponto anterior?
Pela razão simples de que isso evitaria um frentismo de esquerda que, agora, faz sentido (e que contraria o "objectivo" cavaquista). É como num jogo de cartas: na maior parte deles, é possível dizer "passo"! E era justamente isso que Cavaco, atendendo mais uma vez aos seus "objectivos", deveria ter feito! Simples e eficaz: indigitado Passos, o ónus passaria, uma vez mais, para Costa, para o BE e para o PC, que se veriam forçados a derrubar o Governo recém-criado através de moção de rejeição. A seguir, as cartas tinham sido dadas outra vez e o PR podia lançar nova cartada. Mas o "odioso" do ónus do derrube do Governo e da "instabilidade" já tinha dono: Costa, Catarina e Jerónimo.

10) Acresce que Cavaco apelou à "responsabilidade" dos deputados eleitos pelo PS, a querer significar que pelo menos parte deles (os da "ala mais à direita") deveriam viabilizar o governo PSD/CDS.
Este trecho do discurso foi de bradar aos céus em termos de táctica política rudimentar.
O que Cavaco conseguiu com isto foi garantir que jamais esses deputados do PS se poderão rebelar. Quereriam eles ficar com o ónus de desrespeitar as opções da Comissão Política Nacional do partido e do Secretariado para fazerem... o que Cavaco os aconselhou a fazer?? Só num mundo habitado pela Alice no País das Maravilhas!

11) Foi por isso que Costa rejubilou. Os problemas internos de união no PS com que se deparava estão, a partir de hoje à noite, resolvidos. Para quem no PS não desejava uma solução com o BE e o PC agora é... "comer e calar". Tudo o resto será agora visto como uma traição, em benefício da "direita", ou, ainda pior, de Cavaco.

12) Por último, e sob pena de não ter sentido nenhum a sua declaração de que Portugal não pode ter no Governo (ou a apoiá-lo) forças políticas que rejeitem os compromissos do país com a UE  e a NATO, Cavaco tornou claro que prefere um Governo de gestão a um "governo de esquerda" maioritário.

13) O último ponto é indesejável a todos os títulos, desde logo em razão das várias coisas que há para decidir, a nível governativo, com urgência.
Mas é aqui que o egoísmo de Cavaco vem mais ao de cima: esta solução, malgrado miserável, permitiria que terminasse o seu mandato como PR sem um "governo de esquerda" no poder. A batata escaldante passaria para o próximo PR (e não resisto aqui a dizer que Marcelo se divertirá bastante com ela).

14) Um Governo de gestão é a solução mais aberrante de todas e que ninguém pensava que Cavaco considerasse como opção. Capacidade de acção? Zero. Legitimidade política? Zero.
Só mesmo Cavaco...

15) Qual é a consequência óbvia? Qualquer ministro desse governo de gestão deve imediatamente demitir-se.
Primeiro, porque a constituição de um novo governo (entretanto rejeitado pela AR) lhe retira qualquer margem de credibilidade e legitimidade políticas.
Depois, porque a crispação de uma decisão presidencial que partira "o país ao meio" (dividindo-o, pura e simplesmente, entre "esquerda" e "direita") tornaria o exercício de qualquer função governamental verdadeiramente... ingerível!

16) Conclusão: mais uma vez, bastava a Cavaco ter-se ficado pelo óbvio (indigitar Passos e ponto final). Era táctica básica. Mas Cavaco desistiu para sempre do "estilo bolo-rei" e agora não resiste a abrir a boca para lá do essencial. Ora, o efeito "boomerang" de cada uma das coisas que diz é agora, neste final triste de mandato, uma coisa que se percebe mal que ele ainda não tenha percebido que sucede sempre.
Em suma: estamos tramados.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Os novos emigrantes e a verdade


Um dos embustes mais corriqueiros dos últimos tempos é a generalização de que o fenómeno da recente emigração é uma chaga para os que emigram.
A ideia nutre-se do pressuposto de que os que emigram o fazem por estrita obrigação de sobrevivência. Acrescenta-se a isso a reminiscência histórica (com dezenas de anos) de que quem emigra o faz sempre "a salto" e munido de uma simples "mala de cartão" e já está: como todas as generalizações simplistas, dá até para ser usado como trunfo eleitoral.

Ocorre que nada disto é agora assim. E que o que se passa não é passível de ser generalizado de modo simplista, como gostamos sempre de fazer.

Há várias verdades nisto que, ao invés de ficarem ocultas, devem ser assumidas. E por todos.
Eis as principais:

1) Não é possível que se encha a boca a falar, todo o tempo, num mundo hoje "globalizado", mas que, depois, se insista na visão paroquial de que todos - hoje muitas vezes bem formados e preparados para concorrer em muitíssimos mercados - deviam ficar no remanso da "pátria".

2) A "pátria" é hoje um conceito bem diferente. E não parece que os que emigraram se tenham esquecido dela. Falta é perceber bem o que é que ela hoje significa.

3) É obviamente verdade que muitos dos que emigraram agora o fizeram porque não tinham outras alternativas reais de sobrevivência e que, como tal, trabalham hoje em coisas que detestam fazer. Isto é verdade, mas apenas parte da verdade: muitos outros estão satisfeitíssimos com o que agora fazem alhures e não têm nem vontade, nem necessidade, de regressar nos tempos mais próximos. Fazem coisas de que gostam mais, ganham mais, viram mundos fora da paróquia, perceberam que estão prontos para muito mais do que pensavam e que se adaptam crescendo. Em suma: muitos tornaram-se melhores. Ponto final, parágrafo - e nesse tal mundo que lhes disseram que é agora "global" (e é).

4) Quanto à parte dos que tiveram que emigrar para fazer coisas que detestam - e que indubitavelmente existem - falta pensar numa coisa simples: quantos milhões de portugueses estão em Portugal a fazerem coisas que simplesmente detestam? Muitos.

5) Nas reminiscências do passado é incluída a ideia das "saudades da Pátria" que ficou para trás. Isto é verdade? Claro, mas é outra falsa generalização. Muitos dos que emigraram não têm hoje desculpa para não apanharem um avião e, passado umas horas, estarem a saciar saudades dessa Pátria. O resto é conversa e faduncho (daquele de pouca qualidade e não do outro). Há quem não regresse frequentemente a casa simplesmente porque não está para isso.

6) Percebo que seja dramático que Portugal tenha investido dezenas de anos para formar a sua geração mais bem preparada e que agora seja incapaz de usufruir dela. É um azar dos Távoras, mas que os que emigraram não podem ser forçados a pagar.

7) O que não faz sentido é olhar para a "nova emigração portuguesa" com os mesmos óculos de há umas dezenas de anos atrás. É, aliás, o erro que cometemos sempre - agarrando-nos a generalizações simplistas que nos impedem de compreender o que verdadeiramente se passa.

8) Falta só um derradeiro ponto. Portugal é bom? Claro. É óptimo.
Mas o mundo também.


And thank God there's PARADISE


Thank God I'm CRAZY


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Volkswagen e o "cliché" alemão



Pouco me importa a história dos carros da Volkswagen que continham um dispositivo (ou lá o que era) para aldrabar os testes de emissão de tóxicos.
O que me interessa é que isto contraria a ideia feita, defendida por alguns iluminados, da "superioridade moral" alemã.

A tese é sempre defendida em moldes semelhantes: desde o final da II Guerra, a Alemanha teria uma postura moralmente irrepreensível. E superior, claro.
Esta é uma patranha tão falsa como a ideia delirante de que só a "Alemanha" teve culpa nos horrores que praticou naquela Guerra e nunca... os alemães.

Como em todo lado, e para usar a linguagem dos contos de fadas (a única que os iluminados percebem), há alemães "bons" e alemães "maus". Ponto final, parágrafo.
Mas a história da Volkswagen comprova que também os alemães usam do ardil para aumentar o que lhes entra nos bolsos. São, por isso, nisso iguaizinhos ao que há por todo o lado.
Sem falsos moralismos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O xadrez que aí está: Costa, Cavaco e Governo


Deixo aqui estas notas, com a prévia declaração de interesses habitual: já votei no PSD, já votei no PS, já votei no CDS, dificilmente votarei no PC e jamais votarei no BE.

1) Em vez de ter estado calado, Cavaco fez saber, bem antes das eleições legislativas, que exigiria uma maioria estável no Parlamento para dar posse a qualquer Governo. Já então era óbvio que não haveria maiorias absolutas - nem para o PSD/CDS, nem para o PS. Resultado: uma ofensiva frouxa para "marcar o terreno", feita com um par de peões e, atrás, uma "defesa siciliana" mal montada. Resultado evidente: provavelmente incapaz de não convidar Passos para formar governo, lá virá outra vez engolir bolo-rei para passar por cima das declarações iniciais, que eram, claro, dispensáveis (porque lhe limitavam o raio de acção e o fechavam num "compromisso" impossível).

2) Costa está embevecido - por enquanto - com o facto de um resultado eleitoral medíocre lhe permitir ser uma peça imprescindível no tabuleiro. Mas o resultado será sempre cruel: a) se governar com BE e PC, parte o PS e chefiará um governo de meses, arriscando dar a um PAF re-legitimado uma maioria com que não era antes lícito à coligação sequer sonhar; b) se governar com PSD/CDS, nunca mais se livrará da acrimónia da esquerda (PC e BE), passará por amigo da "direita" e dará um passo sério para que o PS nunca mais, no futuro, possa aspirar a não sangrar votos para a sua esquerda. Pode ser, sem histerismo algum, o fim do PS que conhecemos.

3) Não acredito que o que está em curso seja um "bluff" de Costa. Era uma manobra demasiado sofisticada e as coisas costumam ter uma explicação simples: Costa tenta, com o ziguezaguear actual, fazer esquecer o resultado eleitoral do "seu" PS e pretende apenas sobreviver - nem que seja como um mero peão no tabuleiro.

4) Cavaco, entalado pela declaração de antes das eleições e com pouco a perder (a imagem que deixa como PR já não tem safa), vai convidar Passos a formar Governo antes de tudo o mais. Na verdade, é a atitude correcta: a coligação ganhou as eleições. Mas o que antes era evidente (que não há problema, como no passado não houve, de haver governos minoritários na AR) deixou de ser óbvio, e muito por causa das tais declarações de Cavaco, que não soube estar calado (o estilo "bolo-rei", por vezes, não é mau).

5) Passos tudo fará para deixar a ideia que só não houve entendimento com o PS porque o PS não quis; Costa tudo fará para mostrar que não se entendeu com ninguém porque os outros (quer à sua esquerda, quer à sua direita) não quiseram - disso depende a sua ténue hipótese de sobrevivência política.

6) Não é sequer concebível (nem Cavaco o fará), de modo a que haja um governo de esquerda (PS, com PC e BE), que Passos não seja convidado, primeiro, a formar Governo. Chumbado este, o ónus passará para o PS. Com tudo o que de mal isso lhe traz, conforme detalhei acima.

7) Com tudo isto, é ainda possível que Passos forme governo minoritário com o CDS, caso o PS se veja obrigado, por falta de acordo com o PC, a viabilizar esse Governo. Mas, então, tudo se resumirá à tentativa deste Governo (forçosamente feito de políticos e não de "técnicos") em conseguir cair como vítima. Sucede que isso será também difícil (porque não é uma manobra nova), enquanto, entretanto, o país definha.


O xadrez é tramado.
Mas não tinha que ser tão complicado.


Jupiter getting closer


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Do ouropel: "Alea jacta est", Vercingetorix e Mark Twain




Numa tarde de nevoeiro, o dia corria teimosamente ausente. Era o costume, depois de a ilusão se ter escorrido na espuma dos dias.
A conversa era - como habitualmente - desinteressante, também porque era, afinal, um longo e penoso monólogo.

Nisto, veio à baila o famigerado "alea jacta est".
Como é expressão que costumo usar, lá levantei o sobrolho.
Mas permaneci calado, para assistir, confesso que com algum deleite inicial, ao enredo que se seguiu: tinha sido Júlio César (ao menos isso!) a dizê-lo quando lançava as suas tropas contra os "Visigodos". Mais: contra as hordas de... Vercingetorix! Era isso - e de certeza: eram outra vez os Gauleses. Quiçá, estes também "irredutíveis", como na banda desenhada.

Mantive-me calado enquanto me rolavam no cérebro mil coisas. Não era o lapso histórico (que, sem nenhum problema, acontece a todos) que me emudecia. Era o burilar convicto daquela incorrecção e o carácter de definitividade com que me era posta (sem hesitações) que me esmagava.
Vercingetorix, que eu sabia nada ter que ver com aquilo, era, aliás, profusamente caracterizado a esse propósito. Mas aí, já eu não estava a ouvir: o dourar baboso daquela patranha histórica tinha-se-me tornado insuportável.

O que agora me perturbava era como revelar e repor o que é consabido: que Júlio César bradara "alea jacta est" nas margens do Rubicão, quando, ao assalto de Roma, lançava as suas legiões contra... os romanos de Pompeu!

Seguindo a velha máxima de que aquele género de imposturice pede tudo menos o que possa ser visto como lição, aprestei-me a deixar a "história" ficar assim e a sair rapidamente dali.

O plano era simples e nunca acintoso: passados uns minutos, regressaria, diria que tinha consultado o "Dr. Google" e que me tinha apercebido de que tudo aquilo era um lapso, um engano. Contaria essa cena aos outros, aliás, sempre assim, não fosse - como rezam as expressões idiomáticas requintadas - o diabo tecê-las.

E assim foi, pese embora alguma acrimónia e muita rapidez vinda do outro lado: a admissão dos erros era sempre fugaz.
Mas deu-me tempo para me lembrar do episódio que costumam contar de Mark Twain. 
Consta que, certa vez, confrontado com a erudição postiça (mas convicta) de alguém que lhe fazia notar que, em Inglês, "sugar" era a única palavra começada por "S" que se pronunciava como se se iniciasse por "SH", Twain respondeu apenas: "sure".