domingo, 29 de maio de 2016

A história de Vítor Baptista no documentário do Expresso

Esta semana vi que (quase) tudo e todos andaram fascinados com um documentário do "Expresso" sobre Vítor Baptista.
Várias pessoas tiveram a gentileza de me enviar o tal documentário, e esperei por ter tempo suficiente para me pronunciar acerca dele.
Primeiro ponto: não fui dos felizardos que pôde assistir às exibições de Vítor Baptista. Com pena minha, porque estou certo de que era um fantástico craque.
Segundo ponto: não há cão nem gato que não conheça a história deste homem e, como tal, eu também - com os pormenores todos e com todas as supostas desventuras.
Terceiro: achei o documentário paupérrimo e indigno do fabuloso que foi Vítor Baptista.
Passo a explicitar.

O documentário é pobre em factos (mau no grafismo, patético na fotografia...) e ridículo na indigência das "petites histoires" (o admirável "episódio do brinco" está longe de ser o melhor de Vítor Baptista e já dá náuseas de tão estafado...).
O "documentário" refere-se apenas aos episódios que já toda a gente conhecia e concentra-se tão-somente no acessório (a glória desportiva, as origens humildes, a excentricidade e a queda nos malefícios da droga).
Mas adiante.

Sugiro aos que gostam do género (eu gosto) que vejam um dos muitos documentários (por exemplo, "one of a kind") que existem espalhados pela "net" sobre Stu Ungar. E, no cinema, que vejam (se possível, outra vez), "Leaving Las Vegas".
Só para recordarem o fascínio e a grandeza... da queda.

De facto, o que mais me irritou no entusiasmo com que este inefável documentário foi acolhido foram essencialmente três coisas: 1) o desconhecimento que parecia existir sobre Vítor Baptista (até eu, que não o vi jogar, conheço a história dele de trás para a frente e não fiquei a conhecer mais...); 2) o topete que é pôr homens como Valentim Loureiro (!) a falar de uma lenda que aparenta pouco ter conhecido; 3) a suposta "moralzinha de trazer por casa" que recheia o frenesim que excitou a maioria dos destinatários do "documentário".
Quanto ao último ponto agora referido, é muito simples: Vítor Baptista estar-se-ia borrifando para a lição "moral" que a maioria retira da sua história de vida.
Viveu o que quis e como quis.
Sugou o seu "tutano da vida".
"Aproveitou o dia".
Deve ter ficado grato por morrer e fê-lo sem remorso ou pena. Como um rei.
Ao olhar para trás, deve ter pensado muitas vezes na vida fabulosa que pôde viver. E decerto que encarou a sua própria queda com o entusiasmo de poder dizer: estou e estive sempre vivo.

O documentário delicodoce sobre o que a vida dele poderia ter sido caso tivesse escolhido o caminho "certinho" dar-lhe-ia náuseas. Ou pena.
Uma pena que, com certeza, nunca teve de si. Sobretudo, no fim.


domingo, 22 de maio de 2016

Que maravilha...

PARABÉNS!!!!




Invencíveis



Perdemos muitas vezes. Muitas. E não desistimos.
Tudo porque não é uma questão de querer: é uma questāo de nāo poder; de nāo conseguirmos abdicar. De acreditarmos que a vitória sempre virá, mesmo que a saibamos fugaz ou inalcançável - e sabemos.
Caímos ao chāo, outra vez. Pensamos, nesse instante, que seria melhor ficarmos lá. Mas nāo conseguimos.
Era para ser dessa vez, mas nāo...: é superior a nós.
Outra vez, mais uma vez e outra mais. Até ao fim.
Supostamente, haverá uma altura em que vai haver paz. Isto, claro, se nāo formos imortais, coisa que, nos outros (e só neles), para mal dos nossos pecados, poderemos vir a ser.
Triste malapata esta a minha. E tua também.







quinta-feira, 19 de maio de 2016

Risks



But perhaps the risk deriving from the possibility that you might be wrong in your beliefs (and you should always be aware of such risk) is just the perfect reason to die for, no? 
I mean... if you don't run risks you are already dead, man!...

Chatice: nem o meu inglês seria suficiente para fazer perguntas a esta lenda... quanto mais o resto :-(



frown emoticon quanto mais o resto!QUANTO MAIS O RESTO:-(

domingo, 8 de maio de 2016

"Sobrados de tempo"

Dizem-me - e leio - que havia tempos em que estávamos "sobrados de tempo".
Gosto do encadeamento das palavras; a composição tem a estética da matemática.
Mas cerro os olhos, penso nos eufemismos que detesto ("falecer" em vez de "morrer"...), e resigno-me à minha verdade pessoal: todos os dias andei atrás do tempo. Nunca me senti sobrado dele. Nem hoje, nem ontem - nunca.

É o que é.

O tempo - esse derradeiro mistério (para lá do que é insondável na morte) - convoca-me sempre para uma frase que antes saboreei com alguns bons amigos: "Este é o momento. Este é o tempo".
Depois, à medida que relembro um turbilhão de coisas, persiste em mim o frenesim do tempo. Daquele tempo que Einstein, com a sabedoria de sempre, definia simplesmente como "aquilo que o relógio diz", sem conseguir - nem querer - mais.
Aquele tempo de que andei sempre atrás, às vezes numa correria louca - sempre "cá dentro".

De facto, não dá para mais.
E aterra-me também a possibilidade de que o Direito tente reflectir, nas suas tantas imperfeições, sobre o tempo: "O tempo e a sua repercussão nas relações jurídicas" é provavelmente o capítulo mais grotesco dos temas tratados no Código Civil (porque exacerbadamente petulante mesmo na ambição do saber)... É quase a mesma coisa que ocorre quando os médicos querem dissertar sobre a alma: há coisas ditas com interesse, mas que sabem inescapavelmente a pouco e, no fim, a nada.
Pior só os juristas a fazerem-se de médicos em casa ou em inefáveis "escritórios", naquele exercício delirante que revigora o dizer antigo - e acertado - segundo o qual "de médicos e loucos todos temos um pouco".

Há, depois, a memória - que é provavelmente o único predicado do tempo em que persisto sempre. E de que não preciso de correr atrás, porque é ela quem se encarrega de me perseguir a cada passo.
Escrevi isto, algures no passado dos relógios:
"Sem as querer anular, acho sempre que a fantasia também é (porque se faz de) memória e que a memória é, numa boa parte, fantasia.
Podia ficar a faltar o tempo, mas desse pode apenas apropriar-se a memória.
É pouco - como a carne. Mas já é alguma coisa".

Foi, quase decerto, um momento de rara inspiração em mim.
Mas a que o tempo pode voltar atrás. Tal como acontece perenemente a todos.