domingo, 19 de março de 2017

Insanidades e o turbo do ódio

Nem sei por onde começar.
Sócrates, Banco de Portugal e Núncio, Passos Coelho, Assunção Cristas, etc. e tal.
A ordem não interessa. Portanto, comecemos por evidências: Sócrates. Assim como é evidente que prevaricou (só quem é cego é que não vê, sobretudo tendo em conta o que o próprio já disse que fazia - e isso pode não ter relevo criminal, mas já pouco importa), é absolutamente evidente que MP e magistratura judicial não podiam ter feito, até agora, muito pior. Empate? Não. Apenas a vitória da insanidade. E o turbo do ódio de parte a parte (reflectido em opiniões descabeladas e intolerantes, quer de um lado, quer do outro). Só uma coisa mais: não me venham com a história da presunção de inocência porque, felizmente, não sou juiz.
Cristas e a praia: sem comentários. A prova de que esta nova geração é de plástico. Não tenho palavras para tanta imbecilidade. Nunca tive grandes dúvidas acerca disso, mas era escusado tê-lo tornado tão óbvio. É insano. Ponto. Mas vendia bem nos preclaros media.
Passos - que fez muito melhor do que muito boa gente pensa numa altura particularmente difícil - não teve a coragem de fazer o que era óbvio que devia ter feito: ganhar as eleições e, perdida a governação, desaparecer por uns tempos (que podiam até ter sido curtos). Simples e eficaz: a geringonça (como força reactiva - ou "coligação negativa" - que é) já tinha perdido muito do assunto há muito tempo, o seu governo com o CDS (que fez várias coisas boas, sobretudo se se atender às adversidades da época) teria sido protegido (mas isso é nobreza de carácter que já não existe), e estava poupado o embaraço (imensamente prejudicial para o país) de uma oposição inexistente. A este propósito, tem piada a confirmação da candidatura do partido à CML: a exuberância de tanto desnorte só pode resultar de uma espécie de turbo do ódio de quem sente que, depois de não ter desaparecido a tempo, dificilmente acertará uma. Porque não quer, mas, sobretudo, porque já não pode. Nem voltará a poder.
Aclaro um pouco mais: Passos ter-se-ia afastado com tudo, sobretudo se acreditava que o diabo ia chegar (o que pode perfeitamente acontecer), para regressar em glória (ou, ao menos, como injustiçado). Ao contrário - e porque estava cego pelo ódio de uma derrota que não soube aceitar nem compreender (sobretudo por ter ganho nas urnas) -, resignou-se a delapidar tudo e a sujeitar-se a um desgaste que nenhum líder da oposição tem que enfrentar: chega a parecer que responde ainda por um governo. Um governo que já não existe, claro.
O assunto do Banco de Portugal nem sequer tem nome: depois de tudo o que aconteceu, a mínima noção de responsabilidade só podia ditar que o Governador já estivesse no Hawai. Mas não. Quanto a Núncio, esse, depois da panóplia de mentiras (sim, mentiras) que começou por debitar, já devia estar no Panamá. Enfim.
Tudo isto vai acontecendo enquanto um exército de opinadores cretinos se digladia como se estivesse, tendenciosamente, a discutir bola (o que seria legítimo). 
Depois não se queixem.