quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Alegre no que é bom


Metralhadoras cantam
Acenderam-se as armas pela noite dentro.
Quem rebenta? Quem morre? Quem vive? Quem berra?
Há um vento de lamentos nos lamentos do vento...

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
Cantam granadas a canção da morte.
E há uma rosa de sangue à flor da pele.
Morrer ou não morrer é uma questão de sorte!

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
Cantam bazucas e morteiros e estilhaços...
Cantam esta canção do aço que não erra
no espaço do seu fogo.
O espaço entre dois braços.

Cantam metralhadoras a canção da guerra.
Há um tiro que parte, há um corpo que tomba.
Desta boca fechada há um morto que berra:
Quem estoira no meu peito? O coração? Uma bomba?

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
Todo o tempo é uma batalha.
Ataque. Fuga. Fuga. Ataque.
Silêncio. Um silêncio que aterra.
Que marca o rosto com seu peso ruga a ruga.
Um silêncio que canta na canção da guerra.
Mina. Emboscada. Pó. Pólvora. Sangue. Fogo!
Acerta. Não acerta. Erra. Não erra.
Perdeu todo o sentido dizer se galope.

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
Cada segundo pode ser o último segundo.
Como enterrar os mortos que a memória desenterra?
Há um poço tão fundo... tão fundo... tão fundo...

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
Há um soldado que grita: “Eu não quero morrer!”
E o sangue corre gota a gota sobre a terra.
Vai morrer gritando: “Eu não quero morrer!”

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
Houve um que se deitou e disse: “Até amanhã!”
Mas amanhã é o dia em que se enterra
O soldado que disse: “Até amanhã!”

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
E um jipe corre pela noite dentro.
Avança. Não avança. Emperra. Não emperra.
Passam balas de chumbo nas balas do vento.

Metralhadoras cantam a canção da guerra.
E há duzentos quilómetros de morte
Em duzentos quilómetros de terra.
Neste caminho de Luanda para o norte
Metralhadoras cantam a canção da guerra.


(versão com Carlos Paredes neste link)