sábado, 14 de fevereiro de 2015

Diário de um normopata (II)



Experimentei, outra vez, a velha "vénia de nariz", que repeti mil vezes: em rigor, desde que me lembro de existir.
Só que, desta vez, não estava em Coimbra.
É, de facto, espantoso como a "vénia de nariz" só funciona em Coimbra. Nas outras partes do mundo, não há esta irmandade congénita da "vénia de nariz".
Depois de ter lido em Daniel Abreu (em qualquer coisa sobre vinhos e Figueiró dos mesmos) que só em Coimbra o cumprimento - mesmo entre praticamente desconhecidos - se faz com uma "vénia de nariz" e de me ter reconhecido na descrição, tentei hoje a "vénia de nariz" (com tudo o que lhe é próprio: o quase imperceptível reclinar de costas em diante e o ligeiro, mas ostensivo, afundar do nariz, seguido do retorno imediato à posição anterior) em outras paragens. Falhei, obviamente. Não havia ninguém que pudesse retorquir, e a "vénia de nariz" pressupõe - e exige - uma comunhão de acenos. De nariz, claro.
 
O malogro nesta recuperação de um traço esssencial de uma certa normopatia longínqua fez com que me alegrasse pensando na hipótese de o reclinar de narizes fazer com os que os mesmos caíssem ao chão, no momento das tais vénias, desconcertando os intérpretes do habitual expediente.
Mas não. Os narizes não podiam cair. De facto, nem sequer faziam vénias.
Tudo normal, portanto. Para um certo descanso meu.
 
 

Diário de um normopata (I)



There´s something terribly wrong...
I can´t stop myself from laughing.


outra Estrela da Tarde: Mafalda Arnaulth