segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O milagre de Jesus

 
 
Jorge Jesus, diz-se, ganha 4 milhões de euros brutos, por ano, no Benfica.
Nada que me deixe mais satisfeito: foi dos bons investimentos - e não são assim tantos - que a actual direcção do clube fez.
 
Bem sei que o valor em causa se deve ao temor que Jesus rumasse ao Porto, temor esse com o qual o treinador jogou aquando da sua renovação. E daí? Jesus valeu-se, nem mais nem menos, do seu "valor de mercado".
Acresce que continuo a crer que um indivíduo tem direito a fazer-se pagar o melhor que pode pelo seu trabalho.
E, que se saiba, não houve coacção. Apenas o reconhecimento tácito de que este funcionário era uma peça fundamental para remediar uma anemia de mais de 20 anos no que toca à competitividade (não era só a falta de títulos...) da mais importante modalidade do clube.
 
Mas se é para falar de números, acho da mais elementar justiça lembrar (à laia de custo-benefício) os jogadores que Jesus encontrou quando chegou ao SLB e que, fruto do seu trabalho, se transformaram (porque nunca tinham valido tanto) em muitos milhões: Di Maria, David Luiz e Coentrão são os principais exemplos. Javi, Ramires e Witsel já chegaram com Jesus, mas a sua imensa valorização teve, por certo, muito que ver com o seu talento formador (é, aliás, a propósito disto que me questiono, por vezes, acerca do que Jesus teria feito, por exemplo, de um Matías Fernandez ou de um Elias, só para olhar para o outro lado da 2.ª circular).
 
Mas olhemos apenas para esta época.
 
Sou dos que pensou, em Setembro, o seguinte:
1) Era impensável ter a lateral-esquerdo Melgarejo, cujas rotinas defensivas eram nulas.
2) Não fazia qualquer sentido manter Maxi Pereira como única e exclusiva opção para a lateral direita, dadas as características do jogador (ver link).
3) Perder Javi Garcia e Witsel, ainda que em negócios compensadores, já com o mercado fechado quanto a aquisições, era impensável para efeitos de manuenção da competitividade da equipa, já que o meio-campo defensivo (sempre fundamental) ficava praticamente deserto (sobrava, sem adptações ou surpresas, Matic).
4) Ter um amontoado de dispendiosos extremos de qualidade (Sálvio, Ola John, Gaitán, Nolito, Enzo Perez e, como Jesus sempre insistiu, Bruno César) seria garantia do desastre, dado o desequilíbrio evidente do plantel.
5) Comprar Lima, com 29 anos, por 4 milhões era um exagero, e emprestar Nélson Oliveira, uma asneira.
 
Tomei assim como certo, desde logo, que o Benfica penaria até Janeiro, altura em que poderia "remendar" o plantel, dilacerado pelas vendas do início de Setembro, que me pareceram reveladoras, uma vez mais, da absoluta insensibilidade da Direcção para o plano desportivo (tínhamos que vender Javi mesmo tendo em conta os 40 milhões de Witsel, ou vendemos o primeiro sem saber que venderíamos o segundo?).
Era, pois, muito simplesmente, tudo uma questão de saber como nos aguentaríamos até à reabertura do mercado, isto é, a quantos pontos estaríamos do FC Porto neste momento.
 
Puro engano.
E por mérito de Jesus:
 
1) Melgarejo começou titubeante e estava tudo pronto para que ficasse sob pressão constante. Jesus manteve a aposta nele e fabricou mais um lateral (como fizera - aí com especial brilhantismo - com Coentrão). Melgarejo não é brilhante, mas já se viu muito pior. E, como tal, já pouco se ouve falar dele: como num passe de mágica, o problema parece nunca ter existido.
2) Maxi está muito pior do que nos anos anteriores, especialmente a defender: a condição física é paupérrima (ao contrário das equipas de Jesus, costuma arrebitar a partir de Fevereiro), os cartões amarelos são uma constante e a disciplina táctica é um susto. Mas para substituir Maxi (cujo brio e tenacidade se mantêm intocados), Jesus já "inventou", em vários jogos e sem problemas de maior (lembro-me, por exemplo, da exibição no Celtic Park), o prestimoso André Almeida (que também já deambulou pelo meio-campo defensivo, quando foi preciso). Em suma: a alternativa a Maxi parece hoje já existir (e não é Cancelo, como alguns sugeriram).
3 e 4) Sem ninguém para o miolo, à excepção de Matic, Jesus encarregou-se de fazer dele um "6" ou um "8", conforme as necessidades. O sérvio corre, desarma, passa... como nunca fizera. Pode estar num pico de forma, mas as transformações são de tal ordem (sobretudo na velocidade, que era perto de zero), que é impossível não o notar.
Mas era preciso mais alguém: não foi só Javi e Witsel que desertaram. Jesus nunca pôde contar (salvo raríssimas excepções), com Carlos Martins e Aimar.
Por isso, Jesus tirou miraculosamente da manga Enzo Pérez e André Gomes.
Quanto a Pérez tranformou-o, sem danos de maior, num centro-campista minimamente válido, arredando-o das faixas. Quanto a André Gomes (que, entre outros campos, já jogou em Camp Nou e em Alvalade), prestidigitou-o numa alternativa igualmente válida (e com personalidade) para o meio-campo e, mais do que isso, numa opção potencialmente cheia de valor acrescentado para o futuro (vá-se lá saber porquê, a imprensa nunca se lembra que era jogador do FC Porto).
Resumindo: de um meio-campo deserto, Jesus fez um meio-campo interessante. Juntou-lhe Sálvio (sempre preponderante, independentemente das oscilações de forma) e Ola John (cuja entrada na equipa foi sabiamente gerida, até para futuro proveito de Gaitán), formando uma equipa que não defende tão bem quanto seria desejável (mas que já defendeu pior) e que ataca vigorosa e, regra geral, eficazmente.
5) Jesus acreditava que a aposta em Lima teria rendimento desportivo imediato. Lançou-o logo, portanto, e com pleno êxito: golos, técnica q.b., uma disponibilidade física impressionante e uma ligação eficaz entre o meio-campo e o ataque naqueles jogos (como o de Alvalade) em que a equipa se deixa "desligar" entre os médios e as unidades mais ofensivas.
Quanto a Nelson Oliveira, poucos se lembraram dele, entre hesitações e lesões na péssima época do Deportivo. Mas, sobretudo, porque a gestão competente do trio Cardozo-Lima-Rodrigo tem surtido em pleno.
 
Dou ainda de barato o facto de Jesus não ter podido contar com Luisão em cerca de dez (!) jogos da Primeira Liga e ter garantido que Jardel (que começou a época na equipa B) o era capaz de substituir com competência e eficácia, porque isso, atento o descrito acima (e a suprema qualidade de Garay), até pareceu de somenos...
 
Em suma:
Aconteça o que acontecer a este Benfica 2012/2013, já há razões mais do que suficientes para aplaudir Jesus.
Porque é justo.
 
Não me esqueci que Jesus só ganhou uma Liga em 3 anos, quando podia e devia ter ganho duas (não foi o Porto que ganhou a última, foi o Benfica que a perdeu).
Não me esqueci do quarteto defensivo delirante e medroso escalado para Liverpool em 2010 (com Coentrão e Maxi no banco, Sidnei e Luisão a centrais, Amorim a lateral direito e David Luiz a lateral esquerdo...).
Mas não me esqueci também do resssurgimento europeu do SLB de Jesus face ao descalabro total das épocas que o precederam: em 3 anos, quartos-de-final da Liga Europa, meias-finais da Liga Europa e quartos-de-final da Champions.
 
Duvido que o Benfica ganhe este campeonato. Mas tenho a certeza que disputará o título até perto do final.
E isso, certamente, deve-o a Jesus.



PS - E veremos por quanto o Benfica venderá os 85% do passe de Matic que detém, os 50% do passe de Garay e os 25% do passe de Ola John que possui... Felizmente, parece que André Gomes é todo nosso.
 
 
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Teresa Caeiro, Bernardino e ainda Silva Lopes

 
 
Esta semana, Teresa Caeiro voltou aos frente-a-frente na SIC Notícias. Desta vez, o antagonista foi Bernardino Soares (do PCP).
Sempre bem preparado e (goste-se ou não dele) argumentativamente sólido, Bernardino esmagou (é a palavra certa) a sua antagonista, enquanto se conseguiu ouvir o que dizia (tantas foram as interrupções e o berreiro).
Nada de inesperado, portanto, até porque o tema mais aceso foi a greve dos estivadores.
Confesso, porém, que não cessa de me surpreender o papel paupérrimo que Teresa Caeiro vem desempenhando nestes formatos.
Tornou-se impossível debater com ela o que quer que seja: o ar patético de suposta superioridade petulante que insiste em usar é deprimente, a pobreza da sua argumentação (seja qual for o tema sobre a mesa) é chocante e, pior do que tudo, os gritinhos e as interrupções constantes - repito, constantes - aos seus interlocutores são absolutamente exasperantes.
Dá dó.
Sobretudo para quem, como eu, costumava simpatizar com a personagem.
Vá-se lá saber porquê.
 
Ontem, dia 5, foi o dia da Faculdade de Direito de Coimbra e o auditório encheu-se para ouvir João Ferreira do Amaral, Ulrich, Silva Lopes e Carvalho da Silva sobre a crise económica.
Ferreira do Amaral foi, como sempre, interessante.
Silva Lopes foi torrencial.
Não me canso de o ver como uma das vozes mais esclarecidas do panorama actual (ver link).