sábado, 23 de maio de 2015

A aprendizagem do mal



É simples, mas perturbante.
Há uma espécie de manual de sobrevivência para quem se quer "safar" em que um dos capítulos principais é o da aprendizagem do mal.
É básico, chega a ser rudimentar. Mas tem que ser dominado com mestria.
 
Um aprendiz de sucesso nestas artes gosta, acima de tudo, de si próprio. E não pode duvidar disso um segundo - como, aliás, geralmente, não duvida. Os outros são um mero apóstrofe.
Usa do acinte e da amoralidade sem parcimónia. Porque está convencido, claro, de que há uma moral só para si, que lhe permite tudo.
Ou seja: não há, no fundo, moral alguma. E, como tal, nada há que possa servir de freio.
 
Passamos a vida a ouvir que isto resulta sempre mal. E que acaba em tragédia.
Mas, tantas vezes, o que nos é dado ver é que acaba por não ser assim. Pelo menos, em tempo útil.
 
Claro que há uma estupidez de que isto se nutre: uma estupidez luminosa e que não tem mais requinte do que um semáforo, porque se repete sempre e é facilmente previsível.
Mas irrita ver que os catedráticos do mal se acham muito mais espertos do que os outros. Só porque, de tão evidentes, apetece dar-lhes um lamiré sobre os capítulos seguintes, aos quais nunca acederam, pese embora nunca deles tenham sentido a falta.
 
A solução é divertirmo-nos com isto, porque não vai ser possível vencê-los. Até porque, quase sempre, não há paciência para tanto. A felicidade deles é no seu mundo, onde se faz apenas das armas que conhecem.
 
A boa notícia é a de que alguém os vencerá por nós - só por dominar, ainda melhor, os predicados do mal. Há sempre melhores alunos ao virar da esquina.
Esta última parte é, felizmente, sempre assim.
Há quem lhe chame karma.


Life is too important to be taken seriously




quarta-feira, 13 de maio de 2015

terça-feira, 5 de maio de 2015

Roma não paga a traidores


Numa das mais espantosas e menos lembradas cenas de Eyes Wide Shut, Cruise, naquela noite olímpica e do tamanho de uma vida inteira, é atraído por uma prostituta para casa dela, num evento secundário.
 
Nada se passa, à excepção de que há uma incrível tensão a trespassar o ecrã.
 
Ela é lindíssima e ele sabe. Por um acaso, ele não vai poder tocar-lhe. Mas gosta tanto dela, só naquele breve momento, que lhe quer pagar à mesma, embora ela comece por recusar.
 
Não há nada nisto que seja pouco natural. Tudo faz sentido. E nem por um momento duvidamos de que Cruise lhe vai pagar. 150 dólares, se me recordo bem.
 
Este é o simétrico perfeito de "Roma não paga a traidores".
 
Na cena de Eyes Wide Shut, não há prestação, mas o pagamento é uma consequência lógica e evidente, nunca posta em causa.
Quando se proclama que "Roma não paga a traidores", há prestação, mas não há pagamento. Por razões igualmente óbvias e de moralidade insuspeita.
 
É habitual criticar-se o costume romano. Aponta-se um certo cinismo amoral ao acto do romano que suborna e depois não paga ao subornado, malgrado este tenha perpetrado o mal que prometera.
Em Eyes Wide Shut, posta a coisa ao contrário, não há dúvidas nem críticas que possam subsistir. É a prova de que os romanos tinham razão.

 

Já foi há 40 anos (outra vez Koln Concert)


http://malomil.blogspot.com/2015/04/you-must-believe-in-spring.html