quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O bailado da alma


Recebi-o ontem e li-o de um só jorro. Fiquei esmagado.
Abençoado hemisfério direito.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Fischer e a batalha perdida pela normalidade

Por causa deste post em Malomil (link), voltei a Fischer-Spassky, o maior jogo de xadrez de todos os tempos, (também) por não ter sido apenas um jogo de xadrez, como se vê magnificamente aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=jQPL7gZGoT4

Não creio, porém (e refiro-me ao post do Malomil), que Spassky seja (ou alguma vez tenha sido) um homem "normal": quando, no final do 6.º jogo contra Fischer, Spassky aplaude Fischer, mostra não o seu amor pelo xadrez, mas que, já na altura, travava uma batalha mortal com uma certa "normalidade", que entendia ter que se concretizar numa fleuma aflitiva.

Isso vê-se bem aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=YAyurhYHP6o

Talvez - já tão velho como Spassky - seja Korchnoy (que, lá está, nunca chegou a campeão do mundo) a melhor personificação de uma certa "normalidade" do génio, obviamente temperada por um inevitável cinismo conformado:

https://www.youtube.com/watch?v=z3k8o4B-tJI

E, claro, há Kasparov - o mestre do "equilíbrio vencedor". Deve ser a parte que me fascina menos - à excepção do "instinto" (que nunca esquece) - mas é certamente a que mais lhe rende.

https://www.youtube.com/watch?v=egAgvLgk848

Haja vontade.



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Stevie Wonder's Clinic

Depois do post imediatamente anterior (Dave Weckl - "Higher Ground", num cover que, para mim, supera o original) (eis o link, por causa dos IPads: https://www.youtube.com/watch?v=4RS5RsSPssw )

fica a prova de que "superstition" não é para todos.
Por exemplo, vê-se aqui: um exemplo em que o cover de "superstition" não convence, mas em que, a seguir, há um cover triunfal de "Signed, Sealed, Delivered" (eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=4ApHH39yI4c ):


Keith Karlock (bateria, em cima) é muito bom, e Jaffe (guitarra, em cima e abaixo) também - como se vê abaixo, só com temas de Stevie Wonder (link: https://www.youtube.com/watch?v=fwXY8edX6QI ):


Há muitas versões boas de temas de Stevie Wonder, incluindo de consagrados - um bom exemplo é a de "As (always)" de Gene Harris (link: https://www.youtube.com/watch?v=b20pX_9F8vI ):


E há até covers em que participa o próprio Stevie Wonder, como aqui (link: https://www.youtube.com/watch?v=EnMsZAVt-ZM&index=18&list=RDfwXY8edX6QI ):


Há tributos para todos os gostos na internet (mais um exemplo: https://www.youtube.com/watch?v=7YUvrwier-4 ):

 
 
Sendo que não deve haver melhor tributo do que este ( https://www.youtube.com/watch?v=MuJLcBMR9po ):
 
                                     
E jam sessions com "Boogie on a reggae woman" (como aqui: https://www.youtube.com/watch?v=rmnGZgYCwzs&index=22&list=RD4ApHH39yI4c ):


E quase que me esquecia do baixo fenomenal de Victor Wooten com "Isn't she lovely" (link: https://www.youtube.com/watch?v=eynnYLXW3Fo ):


Mas... chegados a "Superstition", não há quem convença em pleno.
Há esta excepção, sobretudo se se levar em conta que se trata apenas de guitarra acústica, sem mais ajudas (e "Superstitious" exige muito mais - desde logo, uma bela banda): https://www.youtube.com/watch?v=gw6qrR74gzQ&index=15&list=RDfwXY8edX6QI


Mesmo com um Stevie Wonder já mais velho, o original (e ao vivo) permanece insubstituível ( https://www.youtube.com/watch?v=3RRWI6O57IE ):


Pois. E o tema tem mais de 40 anos.




Dave Weckl / Jay Oliver - Higher Ground (Stevie Wonder)


Thanks, G.

sábado, 18 de outubro de 2014

Yukio Mishima


http://theculturetrip.com/asia/japan/articles/yukio-mishima-a-conflicted-martyr-/

A César o que é de César (Duarte Marques)

Já aqui zurzi Duarte Marques uma vez (ver link). Em rigor, não Duarte Marques, propriamente, mas o que ele representa.
E continuarei - quando me apetecer - a zurzir (o que nesse texto zurzi), coisa que é irrelevante (sobretudo para ele, mas também para mim), senão pelo facto de constituir uma das últimas promessas que deixarei de cumprir.
 
Dito isto, há uma evidência que quero assinalar.
Quem escreve o que Duarte Marques escreveu no Expresso (ver link) - e sobretudo porque não tinha que o escrever - não pode ser um quadrúpede. Bem ao contrário: tem que ser decente.
 
Já sei que as teorias da conspiração vão encontrar mil razões para que Duarte Marques tenha escrito o que escreveu (basta, aliás, ver as caixas de comentário abertas abaixo do seu artigo para encontrar o ódio destilado do costume).
Mas há um detalhe (e é realmente nos detalhes que Deus e o Diabo estão) que evidencia a decência a que me refiro: a referência expressa à incapacidade de Duarte Marques para tratar Fernando Sousa por "tu".
 
Fiquei esclarecido.
Não gosto da prosa de Duarte Marques. Mas, pelo vistos, gosto nele de alguma coisa que, seguramente, é mais importante.
 
 
 
 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Portugal e a álea das coisas



Costumamos dizer que não somos um "país a sério".
Essa é também uma das várias modalidades da autocomiseração nacional. E deve ser verdade, o que torna tudo ainda mais divertido e, sobretudo, mais emocionante.
 
Diz-se que na política, no humor, e na economia, o timing é decisivo. Ora, nisso - nessa coisa a que chamam timing -, estamos provavelmente perto da perfeição. Caso contrário, já não existiríamos como país.
 
É certo que, em Portugal, se sai de casa de cravo na mão "a horas certas", como disse um dia José Mário Branco. Sempre foi assim. Afinal, "o povo é sereno" (como bradou Pinheiro de Azevedo).
Mas isso não destrói a álea a que, maravilhosamente, entregamos as coisas. E que quase sempre nos tem sorrido.
 
Pelo que tenho visto, nos países que, hoje, são "a sério", não se sai de cravo na mão "a horas certas". Não. O que acontece é que, pura e simplesmente, não se sai de casa. Porque pode chover. É mais sensato, mais eficiente, não se sair de casa e, por isso, é lá que se fica. Regra geral, claro, porque há também os exemplos dos que resolvem sair de casa com violência (o que - já se viu - não é para nós).
 
Admirável e inteligentemente, é de tudo menos de eficiência que o português se lembra quando cogita sair de casa (mesmo que seja "a horas certas"). E muito bem.
O português sabe - porque é naturalmente sagaz - que a economia, sempre ineficiente, nunca vai estar "bem": o máximo que se ambiciona é que esteja "menos mal". É, aliás, isso mesmo que se ouve na rua quando alguém pergunta "como vai?", o que é expressão da lucidez (outra coisa muito nossa e que nos costuma fazer andar de cara fechada) de quem sabe que as coisas nunca correrão espantosamente bem.
O ponto, porém, é que isso pouco importa - e nós sabemos.
 
De tempos a tempos, tentam vender-nos que temos o pastel de nata. E nós encolhemos os ombros e metemos à boca mais um. Mas sabemos que o pastel de nata é e será irrelevante para o PIB. E então?
É também por ser despiciendo para o PIB que o pastel de nata é tão bom. E é por isso que pedimos outro mais.
Claro que num país "a sério" haveria estradas e viadutos rodeando imponentes centros de produção (para exportação, claro) de pastéis de nata normalizados. Mas estradas já nós temos e consta que até são melhores do que as dos Estados Unidos. Vão demorar a pagar, são demais, mas são "nossas". Em suma: pouco importa.

Também nos dizem, de vez em quando, que somos os "melhores do mundo" em várias coisas.
Talvez já tenhamos sido, em tempos, no hóquei em patins. De resto, somos bons em muita coisa, mas não somos os "melhores do mundo" em coisa alguma. Não há, portanto, razões compreensíveis para choques ou depressões.
- Ai que a nossa Polícia Judiciária é a "melhor do mundo"; ai que o nosso serviço nacional de saúde é o "melhor do mundo"; depois, durante uns anos, era aqui d'el rei que tínhamos uns bancos dos "melhores do mundo".
Nunca foi verdade. E nós sempre soubemos.
Mas a pergunta é: e daí?
A verdade é que pouco importa. Não somos - nunca fomos - os "melhores do mundo", mas não somos, acaso por mera sorte, os piores do universo. O que é fantástico, dada a nossa pequenez e escassez de recursos.

O que verdadeiramente interessa é que, nos países "a sério", não se atravessa a rua porque o semáforo está aceso no vermelho, mesmo que sejam cinco da manhã e não haja carros num raio de 5 Kms - "é a lei", dizem. Em Portugal, atravessa-se tranquilamente a rua nestas circunstâncias. E ainda bem. Muito simplesmente porque se sabe, quase sempre, perguntar "porquê".
Acho, sinceramente, que não precisamos de muito mais.
Temos sol (bem sei que tem chovido bastante...) e come-se bem (também é mentira que a nossa cozinha seja, ao menos objectivamente, a "melhor do mundo", mas enfim). E há ar que se respira bem, que é coisa que, depois de se estar longe, se aprende a valorizar.
Há mar, montanha, planície. Há praia e até há neve. Que não são as "melhores do mundo", nem tinham que ser. São apenas bestiais.
Há, na verdade, um pouco de tudo, num espaço espantosamente pequeno - o único, porventura, que conseguiríamos gerir, o que é também obra de uma álea sempre benevolente para connosco.
E há uma liberdade incrível, que insistimos em esquecer-nos que só existe em redutos mínimos do globo: escreve-se o que se quer. Bem, mal, asim-assim, contra quem vier. Diz-se na televisão, de quem quer que seja, o que Maomé não disse do toucinho. Mesmo que seja presidente, primeiro-ministro ou banqueiro. Sem tergiversar - o que é divinal.
Quase sempre, lembramo-nos pouco disto. Do quão mal, ou bem, se pode dizer do que e de quem quer que seja, às horas e no sítio que for. Porque, em Portugal, já estamos habituados. E por causa do PIB, da dívida e da nossa indústria "incipiente", que insistem agora em dizer-nos que são coisa muito mais importante.

Todavia, por efeito da álea que nos bafeja sempre, continuamos, ainda assim, a trazer Euros (poucos, eu sei) no bolso das calças. E a poder deitá-los borda fora, se nos conseguirmos convencer de que isso seria melhor para nós e que o escudo seria panaceia para uma série de males.

Bem sei que esta álea obnubila, farta, e que, às vezes, se quer melhor. Afinal, não tinha que ser tudo como é: os semáforos podiam funcionar melhor.

Também sei que "dizer bem" é coisa de que gostamos menos (e que costuma "vender" pior).
E bem sei que, ainda há pouco, aqui na China, José Gil veio dizer que a "esperança", em Portugal, tinha morrido e que, por isso, o país e as suas gentes definhavam.
Acho que sei o que quis dizer. Mas também sei que uma incrível álea continua a fazer desse nosso país um sítio melhor. E que isso se vê mais claramente de longe, razão por que, porventura, sempre tenhamos saído tanto.

Ao contrário do que nos ensinaram a pensar, a sorte não é sempre madrasta. Só não convém abusar muito dela.

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

1976 - "Estrela da tarde"




Foi em 1976.
Eu não sabia, mas disseram-mo há pouco tempo.
Nesse ano, Carlos do Carmo cantou todas as canções do Festival. Sim, todas. Como que por decreto.

Era ainda um tempo em que estes Festivais tinham uma importância muito particular: afinal, votava-se.

O épico poema (para dizer o menos) de Ary dos Santos e a voz (ainda) imaculada de Carlos do Carmo demonstram, porventura, que a democracia não traz só vantagens.
É que se trouxesse, não seria tão bela.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Carta a Madalena Caixeiro - "Há mar e mar"

Falou-me, há uns dois anos, no prazer de ficar.
Porque eu o tinha experimentado, pretensamente, desde sempre (numa teimosia que eu pretendia que fosse rebelde), nunca me esqueci dessa tarde de Verão.
Disse-mo num tom levemente altivo, como se eu não fosse entender. E eu, sem me importar, regozijei: eu também queria (e achava que tinha) o prazer de ficar - até ao fim. E sabia, claro, que esse prazer se alimentava de uma espécie de segredo impartilhável, sob o pretexto de que os outros não seriam capazes de compreender.

Nessa tarde de Verão,  percebi que a vontade (sim, a vontade) de ter o prazer de ficar não era só minha, o que tornava esse prazer, tudo somado, menos sedutor. E que o meu deleite com o pretexto em que ele se ancorava - pese embora tivesse que ser só meu - era também Seu, ainda que pudessem ser diferentes (e eram com certeza) os cambiantes do nosso artifício.

Passou, porém, pouco tempo até que eu aceitasse que o meu verdadeiro prazer não estava em ficar, por muito que isso me soubesse a rendição. O meu prazer era voltar.
Não era ir, não era ficar. Era voltar.

Escrevi, por isso, nessa altura (e neste blogue), isso mesmo, ainda sem me esquecer da mesma tarde de Verão:
"Já me falaram no prazer de ficar.
Mas como fico tanto, adoro a vertigem de ir - e só, para anular o tempo.
E para então, sim, poder voltar. Sempre."

Outro tempo passou e eis que dei comigo, agora sem rede, a "fugir de mim para me encontrar".
Também isto foi - outra vez - o prazer de voltar (desta vez, a mim), por muito que eu tivesse querido apenas ir.
É onde estou.
Mas percebo enfim que pouco releva ir, ficar, ou voltar (onde?), porque o que importa são as tardes de Verão.
Se ficar for isso, eu fico também.

Um beijo,
H.
 
Em Junho de 2014.

 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A propósito do Direito (e a propósito de tudo e de nada)



Há vários anos que, sem azedume, desvalorizo olimpicamente o Direito.
Desencanta-me o serviço que acaba prestando. E não posso senão menosprezá-lo: diverte-me.

Apesar de em tempos idos me ter feito esquecer disto, nunca estive tão certo de ter razão (como se isso importasse).

Depois do tédio dos interesses, o que, afinal, sempre releva é o verbo e a vírgula, que são o que fica. E a volta feita de uma argúcia mal empregada porque podia ter sido noutra sede.

Não por não ser bom quando temos razão - o que é mais raro do que devia. Mas por ser o Direito, no fim, uma fatal contingência e pouco mais do que persuasão.
Não é cinismo. 
Bem sei que há o belo, o bom e o justo. Mas o Direito (que, na sua insignificância, até constitui ofício) remete-se a uma simples coincidência com eles: a um instrumento. Pode até ser belo, sem ser bom ou ser justo (qual justo?), quando o critério é só meu e prescinde do outro num juízo que só pode ser nosso.
É certo que o Direito não é só carne, o que o torna mais perturbante. E há a forma  - que, nele, por ser muitas vezes cheia de tudo, constituiu um último reduto de esperança para mim. Mas sobra sempre - depois do que não pude (nem quero) ter visto - o travo do argumento elegante e o contentamento fugaz que dele é próprio.
É pena, porque era um sonho ambicioso na floresta das coisas. Mas vale o que vale: pouco - porque há sempre um mas - e, por isso, nada.
"E todavia"...



Em Maio de 2014
 

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Vasco Pulido Valente e o 25 de Abril




Deixei passar um certo tempo (não, primeiro, por ter querido mas, depois, por isso ter sido útil) para ler esta entrevista de Vasco Pulido Valente (link).
Não é que se lhe desculpe porque, em rigor, não há nada para desculpar. Pulido Valente não disse o que pensa, o que é um hábito seu. Trata-se apenas de outro dos seus deboches, desta feita despido da elegância da sua escrita - o que piora tudo e chega a tornar-se grotesco.
Mas era que fosse insuportável que (este) Vasco queria que fosse o seu ódio: para que, no enredo das contradições e dos dislates, não houvesse tempo para ter pena. Dele, claro.
Por isso não tem interesse mandar-te à merda, Vasco. Porque era o que tu querias - e nós sabemos.

 

domingo, 13 de abril de 2014

Que memória, depois, guardarei eu deste tempo?

 
Kasparov (outra vez ele) falou de memória e de fantasia. E, claro, também do tempo.
Sem as querer anular, acho sempre que a fantasia também é (porque se faz de) memória e que a memória é, numa boa parte, fantasia.
Podia ficar a faltar o tempo mas, desse, pode apenas apropriar-se a memória.
É pouco - como a carne. Mas já é alguma coisa.
 
Devo andar criativo...
- o que, evidentemente, não é bom: pelos desassossegos e pela abundância nefasta de vírgulas.

 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O tempo e a música

 
 
 
Dizem - digo eu, pelo menos - que a música tem a singular propriedade, verdadeiramente única, de ser capaz de nos transportar no tempo, fazendo-nos sentir, depois de certo tempo ter passado, exactamente como sentíamos certas coisas num outro tempo.
Visceralmente.
 
Não se trata de um efeito inteiramente voluntário, porque resulta apenas - ao menos inteiramente - quando a música em questão está um certo tempo (outra vez o tempo...) sem ser ouvida.
 
Todavia, o efeito pode ser parcialmente voluntário (ou até induzido), pese embora isso seja certamente abnorme: podemos passar x anos sem ouvir certo tema para que depois possamos sentir, num momento futuro, o que cá atrás sentíamos (e como, cá atrás, o sentíamos).
 
Todos sabemos que este se trata de um efeito maravilhoso (porque realmente mágico) mas que, decerto, é conhecido e experimentado por muitos (e eu acrescento: ainda bem!).
 
Fenómeno diferente (e, para mim, desconhecido até há bem pouco tempo) é um outro.
Refiro-me à música de que sempre moderadamente gostámos mas à qual, por uma ou outra razão, nunca ligámos muito e que, um dia qualquer, também por razão alguma, nos toma de assalto e nos esmaga por, de repente, a acharmos monumental.
A música "não nos diz nada" (isto é: não opera em nós o efeito que primeiramente descrevi porque, como música, era insignificante) mas passa, subitamente, a dizer-nos muito, sem que possamos compreender porque nunca nos tinha dito nada.
Qual metamorfose, é uma outra propriedade assombrosa. Também por ser - esta sim - integralmente alheia à nossa vontade.
E talvez também porque, num exercício maquinal, logo nos damos conta de que projectamos que a mesma música - velha e por nós conhecida, mas só agora verdadeiramente por nós descoberta - nos poderá transportar, num momento futuro, cá para trás.
Quando quisermos.
 
Abril de 2014

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Vigorous writing (E.B. White)

 
 
"Vigorous writing is concise. A sentence should contain no unnecessary words, a paragraph no unnecessary sentences, for the same reason that a drawing should have no unnecessary lines and a machine no unnecessary parts. This requires not that the writer make all his sentences short, or that he avoid all detail and treat his subjects only in outline, but that every word tell" - E.B. White (Elements of style).
 
 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Numa '"ânsia colectiva de tudo fecundar" (José Mário Branco): a minha esquerda

Se lhe chamam esquerda, nisto sou de esquerda. Porque esta é a minha esquerda - aquela que, para mim, é a verdadeira esquerda e de que pouco me importa que dela me aproprie. Aquela para a qual não releva o contraste entre direita e esquerda (o que é isso?), por ser irredutível o que acima disso paira e verdadeiramente interessa (e que - ainda bem... - nao tenho que descrever aqui).


Guardei isto (na sua absoluta genialidade), para mim, durante 15 anos, mesmo sabendo que não era só meu e que a ficção de que fosse (que eu sabia, sem pudor, ser intolerável) não importava.
Mesmo há 15 anos - e sem que isso também relevasse ou, de algum modo, a razão importasse - eu já sabia, para desconforto de alguns (que nunca, em rigor, compreendi), quem tinha sido Pinheiro de Azevedo, Acácio Barreiros, Jaime Neves e outros, que salpicam o início triunfal de "FMI".

Mas foi há bem menos tempo que descobri que o que, afinal, mais releva em o "FMI" é isto, no que hoje encontro, também, a tal (minha) esquerda, bem diferente - e acima - daquilo que se convencionou chamar-se de "esquerda" (ou de "direita"):

"Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar..."

Foi aqui que, confesso, não resisti a recostar-me numa almofada (decerto, para alguns, de cunho capitalista) e, despropositadamente (mas com um sorriso), lembrar-me de Sócrates. Sim, de José Sócrates e da sua "esquerda" (a par da de outros)... Ele há coisas do diabo!
Demorei também demasiado tempo a descobrir isto (é para ouvir de fio a pavio):


Mas cheguei cá a tempo.
Afinal, José Mário Branco tambem diz que "resistir é vencer" (o nome do disco e do concerto). Como se vê (e ele que me perdoe), trata-se apenas de dizer - numa língua diferente da de Churchill e partindo de outro ilhéu ideológico (porventura de apriorismos mais sãos) - "we shall never surrender".
Não há, no que verdadeiramente interessa (que é muito pouco), diferenças de monta.

Obrigado pelo Zé Mario, Pio.

(texto editado em 5 de Dezembro de 2015)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O Pedro e a Carolina

Deambulando, encontrei isto no Malomil (ver este link e o link para que ele remete).
Nao me soube a uma historia como outra qualquer.

O (meu) mundo esta' perigoso.



(Afinal, dizem que hoje e' dia dos namorados).

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Isoldes Liebestod - Waltraud Meier


I'm back on track.
Once more.

Os ultimos dias foram passados em Guilege, Canquelifa e Madina do Boe.
Por Tete tambem passei.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Demasiado perigoso

"I just can't listen to any more Wagner, you know... I'm starting to get the urge
 to conquer Poland" - Woody Allen.