terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Corpo e Transcendência



Como tantas vezes acontece, ainda não me tinha apercebido em pleno do quão extraordinário é Anselmo Borges, apesar de já ter tido ocasião de conversar com ele.
Ter-me vindo parar às mãos, neste Natal, o seu último livro - "Corpo e Transcendência" (publicado pela Almedina e com prefácio de Adriano Moreira) - foi uma benção. Volvidas umas meras dezenas de páginas (comecei pelos capítulos acerca da morte e a eutanásia), fiquei seguro de que vi poucas vezes, em português, um diálogo tão certeiro e profícuo com Kant, Hegel, Espinoza, Unamuno e tantos outros (Heidegger, claro, também lá está).
Espero ter a coragem de lhe escrever - o livro é o pretexto certo.



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Maus sinais



Vítor Constâncio declarou ontem (ver aqui) que o colapso do euro "é impensável".
Eis (mais) uma boa razão para que se tema o pior.




sábado, 10 de dezembro de 2011

A velha questão da diferença


É-me rigorosamente indiferente quem ganha um Real-Barça. Não sofro por nenhum deles. Para isso, já me basta o Benfica.
Mas para quem gosta de futebol, como eu, é um prato difícil de recusar.
Tão difícil de recusar como a mais factual das verdades: com as equipas actuais, pode acontecer, como é evidente, que qualquer uma delas ganhe -  é sempre assim no futebol. Mas se tudo correr na normalidade, o Barcelona ganhará: fora, em casa, ou em campo neutro.
É por isso que tem quase sempre sido assim. A excepção (que me lembre, a final da taça, em prolongamento) apenas se limita a confirmar a regra. E o jogo de hoje, que o Real perdeu em sua casa, liderando o campeonato, depois de começar o jogo praticamente a ganhar 1-0 (condições difíceis de repetir), comprova isto mesmo.
Isto não invalida que o Real não possa ganhar o campeonato este ano: a arte de ganhar campeonatos não se faz de uma corrida a dois. E o factor Mourinho não é desprezível. Mas o facto é que onze contra onze, no mesmo relvado, o Barça, com estas equipas, ganhará, em dez jogos, sete.
É fácil de explicar:
Xavi e Iniesta são melhores que quaisquer jogadores que Mourinho resolva pôr no meio campo. Infinitamente melhores.
O Barça é melhor equipa que o Real. Muito melhor.
Messi, apesar da diferença de estilos, é melhor que Ronaldo. Bastante melhor.
Mala suerte.

sábado, 5 de novembro de 2011

Épicos Morricone (III)

Das obras-primas de Morricone, convém também não esquecer a banda sonora do Cinema Paraíso (de Giuseppe Tornatore). Só porque é mesmo inesquecível.





sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A arte de dizer (ou "o amor das coisas belas")

Fui esmagado por esta entrevista, que tive a sorte de ver em directo.
Tantos meses depois, e não sei porquê, dei comigo, hoje, a pensar nela. Noutro golpe de sorte, consegui encontrá-la.
Ainda bem.



Bessmertny (II)

Concepções

Saiu Trichet, entrou Mário Draghi.
Segundo Draghi (ver link), não vale a pena hipotizar a saída da Grécia da zona euro, porque isso "não está no Tratado e nós não concebemos o que não está no Tratado"!

Nós não concebemos o que não está no Tratado...
É esse, precisamente, o problema.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Épicos Morricone (II)

Também é de Morricone (e de Nino Rota, habitué das bandas sonoras dos filmes de Fellini), o tema do inolvidável Padrinho:


Para não fugir à regra, também deixo aqui o cover rockeiro do tema:

Just for the record

Afinal, parece que já não há referendo na Grécia.
Parece.
É impossível, tal o nível de estultícia, afirmar alguma coisa, com algum grau de certeza, acerca da Europa, por mais de 48 horas.

Épicos Morricone (I)

A pedido de várias famílias, aqui fica, uma vez mais, o "ecstasy of gold", do magistral Ennio Morricone.
Sim, é o tal tema que tem tocado em Alvalade, antes dos jogos do Sporting, esta época.
Integra a banda sonora do lendário "o bom, o mau e o vilão".
E é o tema de abertura de todos os concertos dos Metallica, desde há vários anos.


Os Metallica, de resto, apesar de fazerem tocar sempre o tema original no início dos seus concertos, não resistiram a fazer um cover, em estilo de tributo. Também o deixo aqui. Enjoy!


 

O primeiro desenlace

Após o choque (que os mercados bolsistas - e de que maneira - também sentiram), é já tempo de olhar para o referendo grego de 4 de Dezembro com a frieza que se impõe.

O referendo - note-se - não é sobre o pacote de ajuda, o 5.º plano de austeridade no país, ou sobre o perdão parcial da dívida. Não. O referendo é - seja qual venha a ser a pergunta formulada ao povo grego - sobre a permanência no euro (e, em último termo, na UE).
Tout court - e em termos tão claros, no plano do significado relevante, que o próprio Papandreou, com o semblante de quem jogou a última cartada (o velho trunfo da fuga em frente), já o admitiu, sem subterfúgios.

Perguntar isto aos gregos, por paradoxal que pareça (a primeira reacção é deitar as mãos à cabeça, por se ter desencantado um referendo numa altura em que a celeridade de acção e a simplicidade de processos pareciam ser a chave óbvia da solução), pode porventura ser, muito inesperadamente, um primeiro desenlace, definidor de uma solução qualquer.
De facto, é já um dado assente, dada a monumental incompetência das lideranças da zona euro, que o tipo de caminho até agora percorrido leva a lugar nenhum. E continuará a levar: de tempos a tempos, assim que o pânico aperte, novas cimeiras se realizarão, novos "acordos" serão firmados e - como até agora - os mercados manter-se-ão impertubáveis, corroendo o euro e as perspectivas de solvência dos Estados-membros.
Já se percebeu que alargar o FEEF para números astronómicos (e o FEEF tem AAA para as agências de rating) ou que permitir maior raio de acção ao BCE para (em segredo ou não) comprar dívida soberana nos mercados secundários, não vai resolver o problema.
Muito simplesmente, isso tem apenas conduzido a uma lenta agonia, a um prolongar do estertor. E tem servido para colocar a nu a impotência extraordinária das lideranças da Europa actual.
O resto é conversa: de cimeira em cimeira, de plano em plano, às vezes com um par de meses pelo meio em que a pressão alivia para depois voltar sempre mais tremenda e perturbante (e cada vez mais intensa, sobre um conjunto mais alargado de Estados-membros).

Perante este estado de coisas - de absoluta e letárgica inoperância - é preciso um desenlace qualquer. Uma clarificação.

E o primeiro desenlace pode ser o referendo grego.
Tudo porque o referendo imporá qualquer coisa, decidirá (note-se a força do verbo) qualquer coisa. E, a mal ou a bem, é disto que a Europa precisa.
Pura e simplesmente, se não consegue decidir alguma coisa ou chegar a parte alguma, a Europa precisa que lhe imponham factos. E é isso que os gregos farão, dizendo, muito provavelmente, "não" ao euro.
Se disserem que "sim", aplique-se o plano, então com total e inquestionável legitimidade (e, logo por isso, com acrescida eficácia), até às últimas consequências.
Se disserem que "não", encare-se de frente o problema de ter caído o primeiro peão. Sem ambiguidades. Se o euro não sobreviver sem a Grécia, é porque não tem razão - por ser tão fraco - para existir.

Do que precisamos é, pois, de uma primeira clarificação. Que não chegaria (num prazo útil) sem o topete dos gregos.
É tempo de encarar o problema de frente. Até porque para não o fazer, são precisos, como a História ensina, grandes artistas - e não há artistas no actual panorama desolador dos líderes europeus: apenas medíocres actorzecos de uma geração falhada, iguaizinhos (salvas as diferenças de porte e dimensão) aos que, por cá, têm tomado conta do país nos últimos anos. Sem liderança, prestígio ou competência.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Acerca do desgoverno

Numa caixa de comentários a notícias do Expresso online, descobri esta preciosidade, que cito integralmente:

"Aqui há tempos havia um enigma. Como podiam os mercados deixar a Bélgica em paz quando este país tinha um défice considerável, uma dívida pública maior do que a portuguesa e, ainda por cima, estava sem governo? Entretanto, os mercados abocanharam a Irlanda e Portugal, deixaram a Itália em apuros, ameaçaram a Espanha e mostram-se capazes de rebaixar a França. E continuaram a não incomodar a Bélgica. Porquê? Bem — como explica John Lanchester num artigo da última London Review of Books —, a economia belga é das que mais cresceu na zona euro nos últimos tempos, sete vezes mais do que a economia alemã. E isto apesar de estar há dezasseis meses sem governo.

Ou melhor, corrijam essa frase. Não é “apesar” de estar sem governo. É graças — note-se, graças — a estar sem governo. Sem governo, nos tempos que correm, significa sem austeridade. Não há ninguém para implementar cortes na Bélgica, pois o governo de gestão não o pode fazer. Logo, o orçamento de há dois anos continua a aplicar-se automaticamente, o que dá uma almofada de ar à economia belga. Sem o choque contracionário que tem atacado as nossas economias da austeridade, a economia belga cresce de forma mais saudável, e ajudará a diminuir o défice e a pagar a dívida.

A Bélgica tornou-se assim num inesperado caso de estudo para a teoria anarquista. Começou por provar que era possível um país desenvolvido sobreviver sem governo. Agora sugere que é possível viver melhor sem ele".



terça-feira, 1 de novembro de 2011

One million dollar question

E se Duarte Lima fosse mostrar Maricá à Angela Merkel?

No meu bairro



Já desconfiado, fui ouvir aqui (ver link) os temas do novo álbum de Jorge Palma, "Com todo o respeito".
Os piores receios ficaram confirmados quando, à excepção de um ou outro fogacho, me deparei com uma mediocridade que teima em reinar desde o "encosta-te a mim" e tretas afins.
Dei comigo a perguntar-me porque raio insiste este homem em agarrar na guitarra quando, no piano, é absolutamente genial, como comprova o monumental "Só" (o álbum de 1991, com todas as sequelas).

Mas a quem criou isto...


...ou isto...


...tudo se perdoa.
E os génios fartam-se de errar.


PS - "Que a dependência é uma besta que dá cabo do desejo e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo" (no 2º tema) - provavelmente, uma das melhores tiradas da música portuguesa.



Que diabo!

É impressão minha, ou desinstalaram o João Lemos Esteves (link) do Expresso online??


A crise ameaça tirar-nos tudo.

Começo a ficar farto destes gajos

George Papandreou anunciou a realização de um referendo, na Grécia, sobre o acordo entre os países da zona euro, que reduz sensivelmente a dívida grega.

Era mesmo o que estávamos a precisar para simplificar a implementação de que o acordo carece.


 

Mamma mia!, diz Krugman


Num “post” ontem colocado no blogue que tem alojado no site do “New York Times”, o prémio Nobel da Economia mostra a curva ascendente que voltou a ser desenhada pela “yield” da dívida pública italiana a dez anos e exclama: “Mamma Mia”.
Para Krugman, a subida das taxas de juro da dívida italiana revela que o plano europeu para salvar o euro está "a desmoronar-se mais rapidamente do que eu pensava".

Krugman tem o mau hábito de ter quase sempre razão.


 

sábado, 29 de outubro de 2011

Onde está o inimigo?

Eis a pergunta decisiva para quem, como eu, trata esta crise, desde o início, como uma guerra.
A pior, desde 1945.

O drama desta é que não tem inimigo visível; não se presta a causas.
E os mortos - que estou seguro que haverá - sê-lo-ão em surdina.

O inimigo é a ortodoxia cretina do neoliberalismo monetarista? Ou os desmandos de um Estado-Providência incomportável?
O inimigo é o ataque ao modelo social europeu, ou a cegueira que não vê limites no que se pode gastar?
O imimigo é o jugo da aritmética insuportável, ou a irresponsabilidade da abundância que não podemos pagar?
O inimigo é a política, por ter reduzido a economia à penúria? Ou é a economia, por ter reduzido a política a quase nada?
O inimigo é a Europa, sempre ausente de si? Ou somos nós (e os nossos vícios), apesar da nossa imensa insignificância?

Os gregos não são certamente o inimigo.
Oxalá fossem.

Canal Panda

Get it?

A solidariedade é o domínio do nós.

Um tema das Arábias

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Uma coisa com senso

Ainda não tenho opinião formada sobre a necessidade e os efeitos do corte dos subsídios de Natal e de férias aos funcionários públicos. E falta-me informação sobre a vasta ofensiva fiscal prevista no orçamento de estado de 2012 (aumentos de IMI, fim das deduções nos dois últimos escalões do IRS, aumento do imposto sobre o tabaco, aumento da taxa de IVA para vários bens e serviços, etc.).

Registo apenas que Vítor Gaspar, sem se comprometer com o futuro, disse que podemos manter um "optimismo moderado". Por mim, conservarei um pessimismo esclarecido: não acredito que o corte dos subsídios de Natal e férias (e outras medidas afins) se limitem a durar até ao final de 2013. Sou capaz de apostar.

Uma das medidas parece, porém, inatacável (a par do fim de alguns feriados). A partir do próximo ano, será possível deduzir 5% do IVA pago na aquisição de quaisquer BENS e SERVIÇOS em sede de IRS (até um limite máximo que ainda está por esclarecer).
É uma medida que se saúda, pois estimulará o cumprimento integral das obrigações fiscais em sectores onde a praxe deixava larga margem à evasão.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A constatação



Se havia dúvidas, elas dissiparam-se com a comunicação ao país do primeiro-ministro: estamos, com uma diferença de alguns meses, a fazer a mesmíssima trajectória da Grécia.

É tão grave, que não interessa de quem é a culpa.



Já te tinha dito

Trichet, antes de sair, disse que a Europa vive "a pior crise desde a II Guerra Mundial" (ver aqui).

Julgava que isto era uma evidência. No Arruadas, pelo menos, é. Há muito tempo.

Outra vez Rach

sábado, 8 de outubro de 2011

Não precisávamos disto

Robert Shapiro, assessor do FMI, diz que a banca europeia pode colapsar "em duas ou três semanas" (ver link).

domingo, 2 de outubro de 2011

Afirma Soros

Segundo George Soros (ver link), as autoridades europeias perderam o controlo da situação, o que pode conduzir a uma nova Grande Depressão, com consequências políticas incalculáveis (leia-se: conflitos e guerras).



Conclusão: nenhuma novidade.




sábado, 1 de outubro de 2011

De Alvalade

Desde o início desta época que nos jogos do Sporting em Alvalade, quando as equipas entram em campo para o começo das partidas, toca sempre um tema especial nos altifalantes do estádio.

É o "ecstasy of gold", de Ennio Morricone:



É tão inspirador que é esta, provavelmente, a razão para o Sporting ter voltado a jogar à bola este ano.


 


Isaltino (ii)

EXTRA CREDIT AWARDED



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Stevie Wonder, ontem (29/9), no Rio


Deu para tudo, até para uma versão da Garota de Ipanema (ver link).

Isaltino Morais



GAME OVER?


 
 
«Isaltino Morais foi detido. Pela PSP. Como um criminoso. Uma pessoa lê e não acredita. Criminoso é quem rouba um autorrádio, não é quem rouba o Estado quando ocupa cargos públicos. O Criminoso gasta o dinheiro no dia seguinte, não o põe a render na Suiça.
Sim, é verdade que o processo ainda não acabou. Mas olha-se para a forma como os seus advogados tratam da sua defesa e percebe-se como as coisas funcionam. Todos os recursos são entregues na véspera de cada decisão transitar em julgado. Não há a tentativa de provar a inocência do autarca. Há a tentativa de arrastar, o mais que der, o processo.
Defendo que qualquer acusado deve ter direito a todas as garantias de defesa e a um julgamento justo. Oponho-me a julgamentos sumários. Mas, o sistema jurídico português, com o seu labirinto processual, garante uma justiça rápida para quem não pode pagar um advogado e processos que se arrastam até darem em nada para quem consiga pagar os melhores.
Sim, toda a gente é inocente até prova em contrário. Nunca me cansarei de o dizer. Mas tudo tem um limite. No caso de Isaltino Morais, os truques dos seus advogados, que já vão no Tribunal Constitucional, sempre deixando esgotar todos os prazos até pagarem todas as multas necessárias, não podem deixar as evidências suspensas por mais tempo. Todos conseguimos distinguir quando se está a tentar provar a inocência de alguém ou a tentar adiar uma condenação.
Mas os portugueses não se podem queixar. O que a justiça não faz eles deixaram por fazer. Foram os eleitores, e não as leis, que reelegeram Isaltino depois da sua condenação. E não se tratou de caciquismo ou compra de votos. Oeiras tem os munícipes mais instruídos e com mais poder de compra do País. Os mesmos que se indignarão porque um qualquer pilha-galinhas "é apanhado hoje e amanhã já está cá fora". Não é a justiça que distingue o ladrão rico e o ladrão pobre. São os próprios portugueses. Gostam de ser roubados. Desde que o ladrão, claro, "tenha obra". »

Daniel Oliveira, Expresso online
 
 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Seguríssimo



Prosseguindo a sua senda de "abertura" do PS, António José Seguro não desiludiu.
É impossível deixar de reparar que quem agora faz parte do Secretariado Nacional são exclusivamente apoiantes da sua candidatura à liderança do partido. E apenas um dos antigos ministros de Sócrates, Alberto Martins, lá tem lugar.
Nomes como os de Jamila Madeira e de João Ribeiro garantem a umbilical ligação à antiga JS.

À parte disto, também se notou que Augusto Santos Silva decidiu abandonar o Parlamento, para regressar, convenientemente, à carreira universitária.

Resta saber o que tem Seguro apontado no seu "caderninho" (celebrizado no debate com Assis) quanto a novas "aberturas". Já se percebeu que, no intrincado léxico de Seguro, estas equivalem - como se esperava - a limpezas.


sábado, 24 de setembro de 2011

Podemos privatizar-te (VIII)?

O salário médio dos trabalhadores da RTP é superior a 40.000€ por ano (ver o link aqui).

Confissões



Na entrevista televisiva desta semana (em que o entrevistador - de tão macio - chegou a meter dó), Passos Coelho confirmou o que já se sabia.
Com a inoportuna e desnecessária confissão de que Portugal poderá necessitar de um segundo resgate, Passos demonstrou que nas Jotas se aprendem muitas coisas para se chegar a líder. Mas nunca se aprende a ser líder.
Salvou-se a parte da Madeira. Mas essa já vinha preparada de casa e, em larga medida, foi também a paga da humilhação a que Jardim o tinha sujeitado no Congresso do confronto com Rangel. Relativamente fácil, portanto.
É que nas Jotas - conceda-se - cedo se aprende que "cá se fazem, cá se pagam". Falta o resto: o essencial.


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Alberto João Jardim: o senhor hipérbole e a coisa pública



Jardim integra o grupo dos políticos, raros, que acredita piamente terem a qualidade, também escassa, de serem providenciais.
Perdido num ego alimentado por mais de três décadas, está condenado à inevitabilidade maldita dos monarcas que se lhe assemelham: não ter sabido sair de cena. Será isso - e é provável que a parca lucidez já não lhe permita ver a evidência - que, fatalmente, lhe roubará o que o motiva (depois do desgosto de nunca ter conseguido desembarcar triunfantemente no Terreiro do Paço): um lugar repousante na História.

Rei da "sua" ilha (como não se coíbe de lhe chamar), Jardim tornou-se, com o passar dos anos, um prisioneiro dela.
Amargurado, rezingão. Cercado.

Creio que nunca terá pretendido lucrar pessoalmente, no sentido venial, dos tentáculos do seu poder. Por uma razão elementar: não é esse o móbil de um homem com o seu fascínio por, pura e simplesmente, mandar.
É possível que aqui e ali, na teia de favorecimentos que indubitavelmene estabeleceu (sempre para solidificar a sua força), tenha saboreado, porventura amargamente, o privilégio dos dinheiros alheios.
Mas o que realmente interessa é a irrelevância disso mesmo e o absurdo do portuguesíssimo raciocínio para justificar os desmandos dos tiranos: ao menos - costumam dizer - "não encheu os bolsos".
Não sei. Acredito que não. Mas também pouco interessa, perante o despudor das últimas revelações.

O que é dramático no que agora se soube da Madeira e na forma como Alberto João reagiu é a gravidade do descaramento que é tão característico da nossa cultura política. A assunção, sem vergonhas, de que Jardim, cego pelo festim de pequenos domínios forjados na ilha a que acabou acorrentado, já perdera o norte a ponto de a coisa pública não mais interessar.
Sim, porque do que se tratou foi tão-somente disso mesmo: na vertigem dos desmandos e no cúmulo da hipérbole a que se habituou a ter direito, Alberto João transformou, inebriado, a coisa pública em coisa sua. Tout court.

Para isso, não há desculpa.
Não há obra - pior ou melhor, discutível ou não - que valha.
O fim (que já não está longe) vai ser amargo. E tão cruel - é sempre - como a solidão do ilhéu.



sábado, 17 de setembro de 2011

Relatório UBS



Neste link está um relatório do banco UBS que pretende prever as consequências de uma possível desintegração da zona euro.

Economia de guerra outra vez.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Krugman

O artigo - neste link - não é recente, mas o homem, de facto, é o que mais tem acertado quanto ao que se passa.

Paul Krugman vale a pena. E muito.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Música do outro mundo

O tema - "Same Old Story" - é do álbum "journey through the secret life of plants", o disco menos conhecido de Stevie Wonder, gravado para servir de banda sonora ao documentário "Secret life of plants", no final da década de 70.



Pura magia, requinte e genialidade.

Cego, Stevie Wonder compôs uma das melhores bandas sonoras de sempre para um filme que nunca pôde ver.
Não tenho mais palavras para descrever quão fabuloso é o disco. Mas é para isso, precisamente, que a música serve.

 

Economia de guerra (III): Mayday! Mayday!


(registo real de comunicações durante uma emboscada na guerra do Vietname)


 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Numa bandeja?



As acções do BCP caíram abaixo dos 20 cêntimos.
É melhor não comentar. A bem da nação.

Do congresso do PS

Já sabíamos que a "abertura" era uma das divisas de Seguro. E sabemos o que significa: trata-se de "abertura" aos militantes e às militantes.
No congresso, a única novidade resultou de um acrescento: "humildade".
O que quererá isto dizer?

PS - Abstenho-me de comentar o momento grotesco em que Seguro foi fazer uma visitinha aos jornalistas que faziam a cobertura televisiva do congresso, para incómodo patente (e justificável) de António Costa. Há fenómenos que transcendem o âmbito dos adjectivos.



Puro ódio

No Sábado, à entrada para o congresso do PS, um jornalista provocou Manuel Alegre, perguntando-lhe: "Gostou de ver Mário Soares ontem no congresso"?
Alegre disparou de imediato:
"Gostei mais de o ver aqui do que na universidade de Verão do PSD".

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Eduardo Barroso no "Prolongamento" da TVI24

Os intermináveis programas televisivos em que se discute afincadamente sobre bola inundam os nossos canais televisivos: que me lembre, muito rapidamente, há o "dia seguinte" na SICN, o "trio de ataque" na RTPN, o "prolongamento" na TVI24, o "mais futebol" na TVI, o "tempo extra" na SICN (este em versão de monólogo, de Rui Santos) e, certamente, haverá mais alguns.
Só à conta dos que citei, contabilizo aproximadamente 7 horas de emissão semanal.

Algum problema? Nenhum. São horas a fio, que só vê quem quer, em que se discute sempre a mesma coisa, com os mesmos argumentos.
Há programas em que os próprios comentadores confessam que não viram os jogos que servem de tema ao programa da semana. Mas discutem na mesma. Os lances, os árbitros, o sistema, a personalidade de quem manda nos clubes, os treinadores, as transferências. Tudo ao mais ínfimo pormenor, num estilo politicamente correcto doentio (do estilo: "esperemos que esta semana todos os clubes portugueses façam bons resultados na UEFA", "é importante que o Sporting recupere desta fase para a saúde do futebol português", etc.).

Não tenho rigorosamente nada a opor a este formato televisivo. Sempre que posso, vejo. Relaxa-me imenso, à excepção dos momentos em que as discussões pretendem ter uma dignidade a que não podem almejar: é insuportável, por exemplo, quando se gastam largos minutos a discutir o regime jurídico das Federações, ou os efeitos da "Lei Bosman" (que não é uma lei). Não é para isso que estes programas servem: servem, isso sim, para discutir "bola". Ponto final, parágrafo.

Ultimamente, o marasmo tem invadido estes espaços.
Rui Santos é insuportável. Na vaidade, no pretensiosismo. Na banalidade da análise, mesmo tratando dos assuntos que trata. Em suma: uma prosápia inaudível, de gosto mais do que duvidoso.
No "Trio de Ataque", só me divertem os dislates de António Pedro Vasconcelos e a chacina a que se presta por banda de Miguel Guedes, que invariavelmente o trucida. Mas é um espectáculo demasiado cruel para entreter. Quanto a Rui Oliveira e Costa, só me deleitam os constantes pontapés no português que julga que fala bem: já disse inúmeras vezes "façamos aqui um supônhamos" e repete incessantemente "Percebestes? Compreendestes?". A seguir, com ar pomposo, goza com Jesus porque este "não sabe comunicar". Enfim, para um sindicalista com tiques de visconde, não está mal.
No "Dia Seguinte", já só tem piada o frenesim entre Rui Gomes da Silva e Guilherme Aguiar quando o Benfica ameaça o FCP e Guilherme Aguiar se enerva. Como o Benfica tem ganho pouco (ou nada), pouco de interessante tem havido para ver. Sobra Dias Ferreira, o "grande homem", que tem perdido toda a piada e interesse desde que vestiu uma pele mais pacífica e institucional: efeitos da postura "presidenciável" que assumiu desde a última corrida à liderança do SCP.

Já no "Prolongamento" da TVI24 há Seara, Eduardo Barroso e Manuel Serrão (que substituiu, há uns tempos, o malogrado Pôncio Monteiro).
Seara está igual a si próprio: esperto, sabe que interessa dizer o mínimo, não hostilizar os outros e esperar que o ar de avôzinho simpático lhe continue a render o mediatismo acumulado ao longo de todos estes anos. Seara sabe que "é quem é" à custa destes formatos televisivos. Não está lá, por isso, por causa do Benfica. Está lá, única e simplesmente, por causa dele próprio. O que é um tédio, para quem está a ver (até porque a personagem tem zero de aliciante e menos ainda de estimulante).
A dinâmica do programa é, assim, assegurada pela tensão constante entre Eduardo Barroso e Manuel Serrão.
Sobre o último, interessa dizer que dá gozo vê-lo porque discute bola em televisão como se dicute bola no café. Boçalmente, às vezes com piada, num estilo jocoso, sempre à procura de amesquinhar o adversário. Não tem teorias pretensiosas, é o adepto puro. É isto que se quer, apesar do personagem ser incomodativo. Especialmente, para quem é do Benfica, como eu.


O antagonista de Serrão é Eduardo Barroso.
Barroso é fabuloso e é dele que me apetece falar.
Barroso berra com Serão e diz-lhe, autoritariamente, que o interrompe "quando quiser".
Barroso faz notar a Serrão que troca os "v"'s pelos "b"'s.
Barroso é sincero e emotivo. Enfurece-se e exalta-se. Mas também se comove e pede desculpa. É uma personalidade completa, feita, pois, da inerente complexidade.

Os tiques autoritários e de arrogância vai buscá-los a uma vaidade - que não esconde, mas daí não vem mal ao mundo - de ser um dos melhores médicos da Europa. Por isso manda calar Serrão, quando perde a cabeça, e berra descontroladamente com Seara, quando perde as estribeiras. Barroso está-se nas tintas, porque não depende dos programas televisivos sobre bola para nada. Por issso, desfruta-os. No seu melhor: está ali para vibrar, como nas bancadas de Alvalade, pelo "seu" Sporting. E isso diverte. Pela inteligência e pela autenticidade.
 
Eduardo Barroso sabe que percebe pouco de bola. A ele basta-lhe saber que é golo quando a bola entra na baliza e compreender a regra do fora de jogo. Sabe poucos nomes de árbitros (mas chama-lhes todos os nomes), não faz ideia do que uma equipa deve fazer em campo. Mas está-se borrifando, e bem. O que lhe interessa é a glória do seu clube, semana a semana.
Depois, Barroso sabe que sofre de uma malapata cruel: ser do Sporting. E compraz-se com isso, num exercício divinal de comoção passional e inteligência emocional. É por isso que tem insistido na tese de que os árbitros, antes de apitarem o Sporting, deviam consultar um psicanalista, de modo a contrariarem o seu subconsciente, que malevolamente os leva a prejudicarem o Sporting. Barroso diz isto a sorrir (mas convictamente), juntando vários argumentos e exibindo lances que servem de prova à sua teoria. Várias vezes, para estupefacção de Serrão, que se inquieta. É brilhante...sugere-lhes até o especialista, seu colega, a quem deveriam recorrer.
Mas bom, bom, é o desprezo que o próprio Barroso já não esconde pelo formato do programa: o que ele quer é divertir-se e, com isso, diverte-me imenso. Um exemplo? O do último programa: "Eduardo, o que achou do jogo da selecção nacional contra Chipre?". Resposta, com ar matreiro e um sorriso genuíno: "Uma merda. O jogo foi uma merda". A verdade no seu estado mais puro, dita com as palavras de um adepto. Que não precisa de se dar ares intelectualóides para sobreviver. Que está ali como está na bancada: sabendo pouco ou nada de bola, vibrando pelo seu clube.

Quando tirarem Eduardo Barroso dali (vai haver, aposto, algum iluminado que se indignará com o seu jeito politicamente incorrecto - neste pobre país é sempre assim) acaba o programa. No seu género, é o último que resta.

 

Os rostos da oposição que temos


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Na nave dos loucos

Em mais um inolvidável comentário (que pode ser consultado neste link) trazido à tona pela Politicoesfera do Expresso online, João Lemos Esteves disserta, imparável, sobre a entrevista de ontem, na SIC, de Vítor Gaspar a José Gomes Ferreira (ou "José Ferreira Gomes", como ele lhe chama).

Ainda não vi a entrevista - que só gravei - mas já há dados suficientes para concluir que terá sido boa: João Lemos Esteves diz que se tratou, no melhor dos seus habituais títulos bombásticos, do "princípio do fim de Vítor Gaspar". Conclusão: o ministro deve ter estado soberbo.

Acabado de regressar da Universidade de Verão do PSD, e de jeito lapidar, João Lemos Esteves afirma, sem tergiversaçãoes, que Gaspar "é um desastre comunicacional". E concretiza: "sempre muito vago, muito hesitante, muita conversa".

JLE, mestre da arte de comunicar em política, mostra aqui a Vítor Gaspar o que fazer:


Quanto a comunicar, estamos conversados.

Gostei também do tique Marcelístico de atribuir uma nota à entrevista. Segundo este recém-licenciado, Vítor Gaspar terá merecido um 8 (oito!) na sua prestação televisiva...
Que nota atribuirá JLE às suas prestações?

PS - Parece que estreia hoje uma versão televisiva do Politicoesfera na SIC RADICAL. Ter-se-á apercebido JLE que integra a grelha de FREAKSHOWS do canal?




Que dupla!






Navegando na insanidade total, Seguro escolheu Maria de Belém para presidente do PS (a eleição será uma mera formalidade).

Tudo certinho, tudo direitinho e muito correcto. "As militantes", a "abertura do partido", o discurso completamente vazio e o "laboratório de ideias" a funcionar. O pior do Guterrismo em acção, o que ficou esquecido (e bem) pelo Socratismo em ascensão.
O aniquilamento total da política no PS.

Não há engano: não se trata do esplendor do caos, mas apenas de uma demonstração das potencialidades de expansão do vácuo.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Prémio À rasca

Alberto João Jardim admitiu finalmente que a situação financeira da Madeira é muito grave.
Desta vez, parece que não se trata de mais uma cabala jornalística.



Prémio Deboche Total

A RTPN vai mudar de designação (e logotipo) para RTP INFORMAÇÃO.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Global Spending!

No estudo da Universidade de Cambridge ("Public spending in the 20th century. A global perspective") que se pode consultar neste link, Vito Tanzi e Ludger Schuknecht ofereciam, em 2000, uma belíssima perspectiva (global) do que foi a evolução da despesa pública nos países desenvolvidos ao longo do último século.

O interessante neste estudo é a conclusão de que o ritmo de crescimento (relativo - em função do PIB) da despesa pública não pode ter explicação nas guerras ou no crescimento da população, mas sim, sobretudo, na evolução das perspectivas sobre qual deve ser o papel do governo nas economias estaduais ("changes in public expenditure levels largely followed changes in attitudes toward the role of the state and changes in the institutions which constrain government intervention in the economies").
Significa isto que os autores apontam as concepções económicas e ideológicas de cada momento como as responsáveis pelo ritmo do aumento quantitativo da despesa e pela evolução da sua composição qualitativa (a respeito da qual se constata uma progressiva diminuição das despesas-compra - em bens e serviços - em detrimento das denominadas despesas-transferência - grosso modo, subsídios).

Interessante é também que, em 2000, os Autores predissessem (em linha com a evolução que surpreendem a partir de finais da década de 80) que a despesa pública teria, nos Estados desenvolvidos, que inverter a sua tendência de (aparente) inexorável escalada (como sugere a famigerada Lei de Wagner). Os acontecimentos de 2008 e dos anos seguintes parecem desmentir a previsão - digo eu (graças às gigantescas ajudas que tiveram que ser prestadas, na Europa e nos EUA, ao sector financeiro) - apesar do curiosíssimo choque com as concepções economicamente hoje dominantes, que em tudo parecem querer fazer vingar a forçosa abstenção do Estado relativamente a papéis que nos habituou a desempenhar.

Em suma: uma óptima leitura (também pelo rigor da perspectiva histórica), sobretudo se enquadrada com dados relativos ao crescimento (também relativo) da dívida pública, porque a despesa, já se sabe, tem que ser financiada de algum modo.

Fica, pois, aqui a evolução da dívida portuguesa em parte do mesmo período:


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

OK Tele-SEGURO


Depois do silêncio de Agosto, que o beneficiou enormemente (na mesma medida em que lucrará de cada vez que se eclipsar), António José Seguro veio partilhar connosco, no estilo confessional que artificialmente se dedica a imprimir a tudo o que diz, que "ficaria triste se o primeiro-ministro do meu país fosse receber ordens da senhora Merkel ou do senhor Sarkozy".

Desconheço se o lamento foi proferido com beicinho e lágrima ao canto do olho. É possível.

De qualquer modo, há meia dúzia de coisas que deverão servir para descansar Seguro.
Ei-las:

1) O meu caro amigo não sabe - porque andou nos últimos anos atarefadíssimo a ouvir militantes e a preparar-se para ser líder - mas já há muito tempo que os nossos primeiros-ministros recebem ordens de Berlim e de Paris. É uma espécie de fado que descobriria um dia, caso se tornasse o nosso primeiro.

2) O seu camarada José Sócrates especializou-se, aliás, nesta área, com notáveis méritos (e assinaláveis progressos no Inglês técnico, já que o alemão e o francês são de outro tempo). Ora, se o camarada Sócrates alinhava nisto, que razão haveria para preocupações?

3) Não obstante incómodos resultantes de perdas de soberania, convém sempre lembrar que líder do PS que se preze é europeísta convicto - uma imagem que, tal como propôs no debate televisivo que teve com Francisco Assis (aquele que "fala muito bem"), deve ser mantida e reforçada com chás e cafézinhos em périplos europeus.

4) Por último, uma reflexão a registar no caderninho que exibiu a Assis e que sabemos que o acompanha sempre (registando dúvidas, propostas e anseios "dos militantes e das militantes"): não será apesar de tudo melhor que sejam os alemães e os franceses a tomar as decisões, de modo a que estraguemos o menos possível, dada a nossa incontrolável queda para a asneira? Se calhar...

De qualquer modo, o que queremos é que esteja descansado. E contente - nunca triste!

Estaremos sempre ao dispor.