quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Porque é que o Benfica não ganha ao Porto?

«A pergunta também vale ao contrário: porque é que o FC Porto dificilmente perde com o Benfica, mesmo na Luz? Há três tipos de respostas possíveis: de circunstância, subjetivas e concretas. Só acredito nestas e começo com uma nota prévia: em quatro anos no Benfica, Jesus ganhou algumas vezes ao FC Porto mas não ganhou tantas quanto parecia provável, nem sequer quando parecia por cima em termos de rendimento, opções disponíveis e motivação. Como agora. E só ganhou uma vez no Dragão, para a Taça, perdendo três vezes na Luz.

As causas de circunstâncias são as que se referem às arbitragens, a uma ausência, a erros ou grandes exibições individuais. Proença, Hulk, Roberto, Emerson ou Artur explicam um jogo, não uma tendência. As subjetivas são as que se refugiam nos chavões, tão difíceis de confirmar como de desmentir, de um bloqueio anímico ante o rival, de menor maturidade competitiva, blá-blá-blá. Tretas.

Chegamos ao essencial: a forma de jogar do que chamei "gémeos falsos", candidatos com idêntico rendimento pontual mas identidades marcadamente distintas. Onde o Benfica é emoção, o FC Porto é razão, que se o Benfica faz de cada posse de bola um ataque, o FC Porto quase faz de cada ataque uma posse de bola. O Benfica só se sente confortável quando domina, o FC Porto sente-se sempre cómodo quando controla, mesmo não dominando.
Nestes jogos, o FC Porto é mais igual a si próprio, que o seu modelo não é tão arrasador contra equipas mais pequenas mas, pelo equilíbrio, adapta-se facilmente a jogos de maior exigência. O Benfica sai da zona de conforto quando não tem a iniciativa permanente e os jogadores acusam a mudança de chip se lhes pede que reparem na cara do adversário, para "marcar" Xavi ou Messi, Moutinho ou Lucho, habituados que estão a ignorar anónimos do Moreirense ou do Olhanense. Em suma, o FC Porto mantém o modelo, os princípios de jogo, mesmo quando altera o sistema, enquanto o Benfica mantém o sistema mas acaba, forçado ou deliberado, a jogar segundo princípios diferentes».
 
Carlos Daniel - DN