terça-feira, 28 de julho de 2015

Pablo Iglesias, a batalha contra o medo e Portugal

 
 
Pablo Iglesias vai perder a batalha que elegeu como decisiva: a batalha pela ilusão; a batalha contra o medo. Por isso quer que se grite: "Si, se puede".
 
Pablo identificou, certeiro, a malapata de uma certa esquerda: Pablo quer ser poder. Não traz consigo um discurso cobarde de anti-poder. Porque Pablo sabe que é essa a fraqueza dos Blocos de Esquerda da vida e do que resta dos PC´s bonacheirões que defendem, quando é preciso, o Estalinismo envergonhado, a Coreia do Norte, os Putins do globo e a ditadura de Zedu.
 
Pablo escolheu o Chavismo da Venezuela e Correa do Equador. Mal.
Mas sabia que para ser poder precisava de apoios. E, sobretudo, de dinheiro. Porque o crowdfunding não chega.
À parte disto sobra Tsipras, que gerou o pânico que vai matar Pablo.
 
Mas vamos ao que interessa.
Pablo tem chama, tem retórica, acredita. Tem esperança. Tudo o que falta hoje.
Quiseram fazer dele um alvo fácil. Não lhe podiam ter feito maior favor. Pablo Iglesias não é nenhum idiota, nenhum parolo. Tem uma formação impecável e, mais do que isso, tem a inteligência que não abunda nos que se lhe opõem.
 
Não estou de acordo com quase nada do que defende como projecto de poder (como aclarei aqui: ver link) .
Mas não cairei na armadilha que lhe pode dar a vitória: a tentação de o menosprezar.
 
Pablo fala de sonho e transporta com ele a ilusão. Luta contra o medo de uma grande mudança. E sabe que vai perder. Mas quer ser poder na mesma e sabe que essa é a única opção. Para que o que fique, mesmo na hipótese provável da derrota, seja grande e irremovível.
Mais: sabe que ninguém, agora, lhe pode proibir esse sonho - o sonho que transporta para o discurso.
 
Como dizia Churchill, comentando a incrível derrota nas urnas de 1945, o que interessa não é o que se ganhou. O que interessa é o que se convence quanto ao futuro.
 
Obama ganhou também por isso: "Yes we can"; "Change".
 
Em Portugal, não há Pablos.
Para poder, continua a haver só PSD/CDS e PS. Lugubremente.
Não me interessa quem tem o melhor discurso, nem quem tem razão.
A única coisa que sei é quem tem mais hipóteses de vender uma ilusão. Uma ilusão pequena, com certeza - à medida da nossa lucidez entristecida.
E é na coligação que vejo mais hipóteses de que alguma coisa seja vendida (porventura, "gato por lebre" - não é isso que agora me interessa): o sonho simples e acanhado de que se possam restaurar os benefícios perdidos, por se ter -  com sacifício - atravessado o deserto.
Não é verdade, já se sabe. Mas é mais fácil de vender do que ilusão nenhuma. E é essa que está do outro lado.
 
 
 
 

Pablo e a batalha contra o medo


Let's do it




segunda-feira, 27 de julho de 2015

A propósito da criminalização do ENRIQUECIMENTO ILÍCITO - Lapidar

"Quem cabritos vende e cabras não tem, normalmente é dono de um talho. Ora essa".

(Pedro Caeiro, Escritos Breves, Instituto Jurídico, Faculdade de Direiro, Coimbra, 2015)


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Grécia

"Chegará o momento em que tiraremos as mãos das carteiras e as poremos na consciência. Chegará o momento em que já não veremos os ricos que roubaram mas os pobres que ficaram. Em que não quereremos ressarcimento mas reparação. Em que perceberemos que não se pede sequer solidariedade, mas piedade. Em que nem os sádicos se divertirão com o espetáculo degradante dos políticos gregos. A União Europeia foi longe de mais na violência estéril e vingativa. Para destruir o Syriza está a ceifar-se um povo. Já não é indignação, é súplica: SOS Grécia. E se tudo o resto falhar, apele-se à inteligência, que não é de esquerda nem de direita, pois é preciso mudar aquele plano que, além de horrível, é burro, é mau, é pior para todos.
 
Nos palácios de Bruxelas, nos sofás de Berlim ou mesmo nos bancos de jardim de Lisboa permanece apetecível distribuir culpas e medir ideologicamente o debate. Mas nas ruas de Atenas já passámos essa fase. Sobra o desespero de saber que nada vai valer a pena porque pagar ou não pagar parece indiferente, o tudo ou nada resultará sempre no pouco, no de menos, no insuficiente, porque o plano não funciona. Repito: a Grécia vai ter uma recessão pior do que a que os Estados Unidos viveram na Grande Depressão de 1929. Repito: o plano económico vai falhar porque foi concebido para falhar. Repito: desistimos dos gregos e resistimos a ver o desastre encomendado.
 
O bloco liderado pela Alemanha ficou tão furioso com o desplante do senhor Alexis Tsipras na marcação do referendo que quis devolver-lhe em dobro a lição de superioridade. Até se percebe a fúria, que segundo os relatos da reunião de domingo do Eurogrupo fez com que o senhor Wolfgang Schäuble berrasse. Alexis Tsipras foi arrogante, marcou um referendo pérfido e achou-se nimbado de invencibilidade com os resultados, como se fosse dar uma tareia moral aos demais estados membros. Mas a Alemanha quis tanto destruir o Syriza, por vingança e por dissuasão a que outros países elejam partidos radicais, que perdeu a noção da força. Mais um pacote recessivo vai destruir mais economia e mais emprego numa economia já exangue.
 
A vitória sobre Tsipras foi retumbante. Até o perdão da dívida, que o Syriza sempre reivindicou, é agora formalmente admitido pelo FMI, mas de forma a culpar o partido, que não tem nada para mostrar. É ridículo ouvir Alexis Tsipras dizer que assinou um acordo em que descrê. É degradante vê-lo tripudiar o próprio Syriza e ancorar-se nos deputados dos partidos que detesta e que o detestam a ele. É assustador ouvir a presidente do Parlamento (que pertence ao Syriza e se junta aos 40 deputados que se afastaram de Tsipras) falar em genocídio social. Mas a humilhação suprema talvez seja ver Tsipras dizer que não há alternativa. Tsipras, o temível mastim indomável, está amestrado como um caniche. Dá dó. A direita rejubila. Também dá dó. Porque ninguém para, escuta e olha para perceber a loucura que estamos a patrocinar.
 
A loucura de ver um povo desesperado que, depois de cinco anos de austeridade duríssima, tem prometida nova dose de austeridade duríssima. A loucura de tornar o pagamento da dívida mais insustentável do que nunca, pela destruição económica provocada – se a Grécia sai do euro, os credores podem esquecer, vão receber raspas. A loucura de segregar dentro da União Europeia, cavando um fosso que nos vai apartar sabe-se lá até que lonjuras.
A Grécia só se livra desta sarna se, além do perdão de dívida que de qualquer forma terá, tiver um programa de estímulo económico. O mundo, aliás, só recuperou da Grande Depressão dessa maneira.
 
Percebe-se a pulsão de obrigar o país a adotar as reformas estruturais nunca adotadas, incluindo a de ter um Estado que funcione e que cobre impostos. Mas não é destruindo o espaço político e aniquilando a economia que tal vai ser conseguido. A violência na Praça Syntagma é desenrolada por grupos anarcas ruidosos mas pouco representativos. A miséria que se alastra, não: é de todos.
 
É preciso mudar o plano. Somar à austeridade um programa de investimento que estimule a economia e que apoie casos sociais de pobreza. Isso é ser inteligente, até porque é a única forma de tentar recuperar parte da dívida. Talvez a linha dura dos alemães queira apenas humilhar o Syriza e tenha feito um plano para que, depois da capitulação de Tsipras, mude o plano para melhor. Até seria bom que isso fosse verdade. Seria maquiavélico mas, ao menos, saberíamos que a loucura iria mudar. E que, portanto, a Grécia haveria de ter saída da crise em vez de uma saída do euro. Para já, o que vemos é o que temos, um país inteiro a afundar-se na desgraça.
 
Os gregos estão desesperados porque a situação é desesperante. Coloquemo-nos no lugar deles por um minuto: um governo de extrema esquerda ajoelhado depois de cinco anos de tareia, de desemprego e de austeridade, depois de décadas de corrupção e roubo institucionalizado com os governos de centro. E o que lhes dizem que se segue? Pobreza. Talvez a esta hora também estivéssemos na rua".
 
Pedro Santos Guerreiro - Expresso
 
 

Macau



De volta a Macau.
A um dos sítios mais incríveis do planeta - pelo menos, do planeta que eu conheço.
 
Aqui o discurso faz-se na primeira pessoa do singular. Para o melhor e para o pior. Como eu sempre gostei.
 
Falaram-me, logo mal cheguei, de um certo efeito amplificador que Macau produz. Não percebi logo, mas acreditei. E é verdade.
Cada derrota é mais amarga em Macau. Cada vitória é mais retumbante em Macau. Cada percalço é aqui mais excitante. E o abandono e o que corre mal são aqui mais penosos.
À conta disto, cheguei a ter dificuldade em caber dentro de mim.
 
Não faço a mínima ideia porque é assim. Mas é. A própria paranóia cresce ao ritmo frenético das árvores.
E, por isso, as linhas saem mais direitas, por mais surrealista que seja o conteúdo.
Há mais vírgulas, mas só porque se tenta sempre ir mais fundo. Como no contraste que aqui existe entre um património ancestral e uma linha do horizonte feita de pura fantasia e do último grito. 
 
Há muito mais para dizer. Mas agora não.
Até depois.
 
 

Complete DJANGO


terça-feira, 14 de julho de 2015

Trinity - I actually keep alive with my Colt 45


Tudo muito simples. Como sempre, aliás.

"É muito simples

Em Portugal nem toda a população é perita no problema grego. Eu, por exemplo, não sou. Quando me ponho a ler explicações, nos jornais e nas revistas mais sérias, sobre os problemas da Grécia não há uma só que seja convincente ou que não seja tautológica.
Antigamente eram os economistas os principais culpados. Agora é toda a gente. A variedade mais irritante de explicador é o que começa por dizer que o problema da Grécia "é muito simples". Como quem diz: "até tu, minha besta, vais perceber".
Segue-se uma explicação que é, de facto, muito simples mas carece de potência explicativa. É caso para invocar o antigo ditado português que diz "muita palha come a besta, mas mais besta é quem lha dá".
 Não sei nada sobre os problemas da Grécia mas ao menos sei que são com certeza complicados e que dependem do ponto de vista e dos interesses de todos aqueles que procuram defini-los e resolvê-los.
Quando cada pessoa que se pronuncia sobre a Grécia se convenceu que percebe o problema e está certa de conhecer a solução a única conclusão a tirar é, esta sim, muito simples. Entre estarmos quase todos enganados e termos todos razão já se sabe para que lado é que tende a probabilidade. Para o pior".
      
 
 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O dia do OXI

OXI!
Não sei se, para os Gregos e para o que resta da Europa, é bom ou é mau.
Em boa verdade, acho que ninguém sabe.
Uma coisa é certa: é o que é - com toda a força que a isto está sempre implícita.

E lembrei-me logo de um post recente daqui: http://arruadas.blogspot.com/2015/06/um-final-feliz.html

Alea jacta est.