Por um destes dias, pediram-me que escrevesse um texto (de que deixo aqui um trecho) que se subordinasse ao tema "Da Europa da fraternidade à Europa económica".
Como era uma encomenda envenenada, guardei-me para o fim-de-semana e, claro, dei comigo aterrado: desde quando é que pode dizer-se que a Europa foi, por um segundo que fosse, "fraterna"?
Não lembra ao diabo...
Mais interessante é a discussão sobre se a ideia (ou alguma ideia) de Europa verdadeiramente existe (ou existiu).
Também não me parece.
Mas resta a teoria que vê o Humanismo como o traço identitário da ideia de Europa.
Com efeito, volvidas as duas Grandes Guerras, poder-se-ia, porventura, considerar o Humanismo como o património comum a uma certa Europa e a base para a construção de uma ideia de “Europa”. Sobretudo graças às lições do século XX, a que Alain Finkielkraut – valendo-se da experiência da II Guerra Mundial – chamou o “século da desumanidade”.
Sucede que o Humanismo – o respeito pela indeclinável dignidade do Homem enquanto valor absoluto e autónomo – não pode ser reclamado por um único conjunto de nações e nunca poderá, por definição, ser o traço identitário delas (ou de um conjunto delas que aspirem a buscar nele a essência da sua diferenciação). Tudo porque o Humanismo não pode, pela sua natureza intrínseca, conhecer fronteiras: trata-se, com efeito, de uma doutrina que, tout court, absolutiza a dignidade do Homem. Logo, sempre terá que ser, forçosa e radicalmente, transversal, não sendo, pois, passível de que nenhuma nação ou pátria (ou um conjunto delas) se aproprie dele.
O respeito pela dignidade humana não tem espaço, não conhece fronteiras. Não tem género. E não tem pátria. Muito menos continente.
Bom resto de fim-de-semana.