segunda-feira, 19 de maio de 2014

A propósito do Direito (e a propósito de tudo e de nada)



Há vários anos que, sem azedume, desvalorizo olimpicamente o Direito.
Desencanta-me o serviço que acaba prestando. E não posso senão menosprezá-lo: diverte-me.

Apesar de em tempos idos me ter feito esquecer disto, nunca estive tão certo de ter razão (como se isso importasse).

Depois do tédio dos interesses, o que, afinal, sempre releva é o verbo e a vírgula, que são o que fica. E a volta feita de uma argúcia mal empregada porque podia ter sido noutra sede.

Não por não ser bom quando temos razão - o que é mais raro do que devia. Mas por ser o Direito, no fim, uma fatal contingência e pouco mais do que persuasão.
Não é cinismo. 
Bem sei que há o belo, o bom e o justo. Mas o Direito (que, na sua insignificância, até constitui ofício) remete-se a uma simples coincidência com eles: a um instrumento. Pode até ser belo, sem ser bom ou ser justo (qual justo?), quando o critério é só meu e prescinde do outro num juízo que só pode ser nosso.
É certo que o Direito não é só carne, o que o torna mais perturbante. E há a forma  - que, nele, por ser muitas vezes cheia de tudo, constituiu um último reduto de esperança para mim. Mas sobra sempre - depois do que não pude (nem quero) ter visto - o travo do argumento elegante e o contentamento fugaz que dele é próprio.
É pena, porque era um sonho ambicioso na floresta das coisas. Mas vale o que vale: pouco - porque há sempre um mas - e, por isso, nada.
"E todavia"...



Em Maio de 2014