Dizem-me que chegarás num barco voador vindo de Hong Kong.
E dizem-me – e eu sei –
que não poderei esperar-te no cais porque, à conta do que deve e tem de ser
feito, só quem embarca o pode pisar.
Suspeito que só seja
assim mercê de uma renovada e secreta conspiração, cujo desígnio é privar-me de
mais esse gosto, tal como sucede com outros, e sem que eu perceba, como quase
sempre, a verdadeira razão por que tenha que ser assim.
Que hei-de eu dizer-te?
Dir-te-ei que, como
quer que seja, estarei nesse cais. À tua espera, ou, se preciso for, a embarcar
dele, noutro barco voador, assim tu o queiras. Mesmo que tardes.
Dizem-me porém que o cais, afinal, não existe e que só eu acredito nele.
Talvez.
Mas, como quer que
seja, pouco importa. Será nesse cais que te esperarei, ou será dele que
partirei. Insistentemente, sem que haja tempo nem regra que o possa fazer exaurir-se.
Não significa isto que
será de certeza como agora o digo. Mas é certo – isso sim – que, se nisto
pudesse haver certezas, o mesmo cais não se ergueria, invencível, sobre um rio
que, aliás, é de águas turvas. E isso – digo-to eu – é mesmo assim. E como quer
que seja.
HDF