sexta-feira, 3 de abril de 2015

Como quer que seja



Dizem-me que chegarás num barco voador vindo de Hong Kong.
E dizem-me – e eu sei – que não poderei esperar-te no cais porque, à conta do que deve e tem de ser feito, só quem embarca o pode pisar.
Suspeito que só seja assim mercê de uma renovada e secreta conspiração, cujo desígnio é privar-me de mais esse gosto, tal como sucede com outros, e sem que eu perceba, como quase sempre, a verdadeira razão por que tenha que ser assim.

Que hei-de eu dizer-te?
Dir-te-ei que, como quer que seja, estarei nesse cais. À tua espera, ou, se preciso for, a embarcar dele, noutro barco voador, assim tu o queiras. Mesmo que tardes.

Dizem-me porém que o cais, afinal, não existe e que só eu acredito nele.
Talvez.
Mas, como quer que seja, pouco importa. Será nesse cais que te esperarei, ou será dele que partirei. Insistentemente, sem que haja tempo nem regra que o possa fazer exaurir-se.
 
Não significa isto que será de certeza como agora o digo. Mas é certo – isso sim – que, se nisto pudesse haver certezas, o mesmo cais não se ergueria, invencível, sobre um rio que, aliás, é de águas turvas. E isso – digo-to eu – é mesmo assim. E como quer que seja.
 
HDF