segunda-feira, 6 de maio de 2013

Rui Oliveira e Costa


É quase meia-noite de um Domingo normal.
Tenho o vício (felizmente, tenho vários) de ver o Trio D'Ataque na RTPN aos Domingos à noite. Podia ter-me dado para pior...
Mas, desta vez, não consegui deixar que o programa chegasse ao fim sem me agarrar ao teclado do computador.
Como a fúria é considerável (há coisas inexplicáveis...), são convenientes alguns pontos prévios:
 
- Não conheço pessoalmente o Senhor Rui Oliveira e Costa (e nem quero, mas isso é irrelevante). O que escreverei é sobre a personagem televisiva que o cavalheiro incarna.
- Não tenho rigorosamente nada contra o Sporting ou os adeptos do Sporting, para lá das rivalidades saudáveis de quem gosta de futebol e é adepto de outro clube rival. Sou amigo de imensos sportinguistas e não me lembro de me aborrecer seriamente com ninguém por causa de futebol (coisa diferente seria, aliás, surreal).
- Sendo adepto do Benfica (que sou), não deixo de apreciar a inteligência, a tenacidade ou a capacidade argumentativa de variadíssimos comentadores da nossa praça que zurzem o Benfica, por serem adeptos do FC Porto ou do Sporting: acho que faz parte das regras do jogo e inclusivamente simpatizo com a maior parte dos mais conhecidos. Por exemplo: acho Miguel Guedes (indefectível portista), quase sempre, feliz nos comentários que faz (embora quase nunca concorde com ele...), aprecio a genuinidade de Eduardo Barroso (como já aqui escrevi uma vez) pesem embora muitos excessos em que vulgarmente se deixa cair, e achava uma piada imensa, muitas vezes, a Pôncio Monteiro. Como acho, de resto, a Dias Ferreira, malgrado o estilo.
- Gosto de ver futebol e, sobretudo, do Benfica, ainda mais este ano, reconheço, por duas razões simplicíssimas: porque o Benfica tem jogado bem e porque me resolvi decididamente (de há quase um ano para cá e não sei por quanto tempo mais) a não ver quaisquer programas de televisão que não sejam puramente lúdicos (nos quais o futebol se inclui). É uma espécie de resistência tenaz contra o estado de coisas que aí está, mas essa é conversa para outro dia.
 
Dito isto, quero ir directo à questão: Rui Oliveira e Costa (ROC) é, seguramente, o indivíduo mais repugnante que me lembro de ver em televisão. É uma espécie de pústula que ressalta no que possa haver de menos sadio.
Não me refiro ao facto de ROC ser um completo ignorante em matéria de futebol e ser comentador residente de um programa televisivo votado ao assunto. Nisso não há problema de maior. E até podia ter piada. Mas não tem. E não tem porque ROC amesquinha os outros por não perceberem (tal como se passa com ele) rigorosamente nada do tema: foi assim, por exemplo, com António Pedro Vasconcelos, a quem desdenhosamente ROC, com a educação que lhe é característica, disse, em directo, por mais do que uma vez, e com sorriso trocista e tom acintoso: "tu não percebes nada disto".
Com ROC passa-se um fenómeno raro na espécie humana: ROC não percebe nada de coisa alguma. O drama é que ROC se acha um especialista. E em várias coisas.
 
ROC acha que sabe de bola. Mas não faz a mínima ideia do que é um jogo de futebol. As suas análises aos "4x2x3x1" e aos "4x4x2" de várias equipas (em que insiste em espraiar-se) são exercícios delirantes para puro deleite dos psicanalistas.
ROC acha que sabe de sondagens, mas basta-se com a tabuada. Daí que a sua "eurosondagens" atribua vitórias eleitorais ao seu amigo José Couceiro. E que se irrite com ferocidade (como uma vez também aconteceu com António Pedro Vasconcelos, num directo da RTP) quando lhe recordam que é incapaz de lidar com um computador e com as suas funcionalidades mais básicas (como o e-mail!).
ROC acha que sabe de política americana, de sistemas eleitorais e de organização estatutária das entidades societárias e associativas, como é o caso do "seu" Sporting. E ROC acredita piamente que sabe mesmo, a ponto de nas últimas eleições para a presidência dos EUA, num directo da SIC, ter insistido (agarrado a um papelinho com contas de merceeiro), mesmo perante os resultados dados como "fechados" pela CNN e pela CNBC (que, com certeza, só terão asnos, na opinião de ROC, a fazerem contas), que Obama ainda corria o risco de perder em Estados nos quais a vitória lhe era imprescindível.
E, claro, ROC sabe também imenso de Direito e, por isso, diz que as escutas do "Apito Dourado" foram ilegais e um verdadeiro atentado, mesmo que um juiz as tivesse autorizado.
 
Perguntar-me-ão: e qual é o problema?
Eu respondo: nenhum, como, em geral, acontece sempre com a ignorância profunda e obstinada. Não vejo problema nenhum no facto de ROC, por exemplo, não perceber que as escutas não foram "ilegais" (ele costuma dizer, preocupado, que, por isso mesmo, nunca as ouviu, embora eu fique na dúvida se é mesmo essa a razão, ou antes o facto de ele não saber aceder ao youtube), mas que apenas não tiveram validade probatória no tipo de processos que estava em causa.
Repito: neste tipo de coisas, em que a profunda ignorância de ROC é ostensiva, não vejo problema algum, à parte da sua saliente veia opinativa.
 
No que vejo problema, e largo, é na soberba com que abre a boca. No ar infecto de superioridade com que fala dos outros, mesmo valendo zero.
Dou o exemplo clássico: ROC é implacável com as capacidades linguísticas de Jorge Jesus (JJ).
No Trio D'Ataque, foram inúmeras as vezes em que despudoradamente fez troça da maneira como Jesus se exprime nas conferências de imprensa. ROC baba-se de gozo com os pontapés na gramática dados por JJ e com as metáforas usadas por ele. Mas ROC fá-lo ao mesmo tempo em que, repetidas vezes, acrescenta um "s" às segundas pessoas do singular: "percebestes?", "compreendestes?", "fizestes". Ora, o que dizer quando o autor destas cavalidades se dá ao requinte de troçar do português falado pelos outros? Só uma palavra simpática me ocorre: um quadrúpede.
Mas, no que a isto diz respeito, o momento mais alto é invulgarmente atingido nas numerosas vezes em que ROC decide fazer um "SUPÔNHAMOS", nos programas em que pegajosamente participa. Sim, um "supônhamos". Com ar majestático, ROC entrega-se frequentemente a este tipo de exercícios: "façamos aqui um supônhamos que o Sporting não ganha ao Casa Pia..." ou "façamos aqui um supônhamos que o Benfica não ganha a liga Europa...". Apetece sempre responder-lhe: "supônhamos" que não eras um imbecil? O mundo não seria, certamente, o mesmo.

 
Falta só a parte (porque a paciência não dá para mais) para aquilo a que Miguel Esteves Cardoso, um dia, crismou de culambismo, num brilhante artigo de O Independente.
Os culambistas estão sempre com quem ganha, sujeitando-se às mais patéticas faltas de coerência.
ROC é um culambista profissional. E exasperante, pois torna-o de tal modo notório que ascende ao zénite do mais fedorento dos culambismos.
Não me recordo, até hoje, de ter assistido a um exercício de Pyongyang TV mais flagrante do que o episódio do Trio D'Ataque em que Godinho Lopes (já com a sua direcção exangue) foi o convidado. Como me lembro bem do que inúmeras vezes ROC disse  (pouco menos do que o pior possível) de Bruno Carvalho quando este era apenas um candidato à presidência do Sporting e o silêncio total (pontuado por elogios tímidos) que pratica hoje.
ROC, ao que consta, chegou a dizer que rasgaria o cartão de sócio se Bruno Carvalho ganhasse. Mas claro que preferiu manter-se como representante do Sporting num programa de televisão quando o clube passou a ser presidido por ele.

Termino com a interrogação que me assaltou o espírito no momento em que acabei de escrever estas linhas: não acharão também os simpatizantes do Sporting tudo isto grotesco?
Para saciar a minha curiosidade, decidi visitar o que se diz no maior fórum do Sporting Clube de Portugal na internet sobre este personagem. Está aqui (ver link).
Confesso que vou dormir mais descansado.