segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Pacheco Pereira e a famigerada expulsão

1. Sempre gostei de Pacheco Pereira: dos seus defeitos e das suas muitas qualidades. Isso nota-se bem, aliás, aqui (neste meu post de 2011, de que agora deixo o link - ver).

2. Não se me afigura sequer discutível que Pacheco seja - e de longe - uma das cabeças pensantes que resta no panorama mediático. O mesmo ocorre no partido político a que ainda hoje pertence.

3. Sigo Pacheco há anos e anos. E lembro-me muito bem como defendeu o cavaquismo governativo até à exaustão, perante os ataques viperinos (mas sagazes) de José Magalhães no "Flashback". Já na altura, não era nada fácil, sobretudo no declínio do segundo governo de maioria absoluta (1991-1995).

4. Houve sempre uma coisa evidente: o PSD de que Pacheco gostava (e a que pensava pertencer) raramente existiu. E, de facto, nos últimos anos, desapareceu: da social democracia (e desse "centro") resta pouco ou nada.

5. Compreendo, por isso, que para Pacheco tenha sido impossível não atacar o anterior governo PSD/CDS. Não acho que o tenha feito sempre bem e, pior, acho que nunca lhe deu tréguas também por questões estritamente pessoais e de ajuste de contas (Pacheco não perdoa e não se esquece). Por isso, discordei - e discordo - dele muitas vezes.

6. Mas as notícias recentes de que a Pacheco é agora sugerido que abandone, "pelo seu próprio pé", o PSD merecem-me algumas observações.

7. Em primeiro lugar, a pior coisa que o PSD - para si próprio - podia fazer era expulsar Pacheco, ou seja, fazê-lo sair do partido sem ser "pelo seu pé". Isto é absolutamente óbvio: nada convém tanto a Pacheco como ser transformado em mártir. E, ainda para mais, das "liberdades".

8. Depois, o "mal" que Pacheco já poderia ter feito ao PSD está mais do que feito: foram anos, por exemplo, de comentários a deitar abaixo Passos e o seu governo. Resultado: a expulsão agora seria inócua e contraproducente.

9. O tema da "expulsão" surge também num momento ridículo: o que a justificaria seria um eventual apoio a candidatos presidenciais como Marisa Matias ou Sampaio da Nóvoa. Mas as eleições presidenciais não são "além dos partidos"? Nem sequer Marcelo é um candidato "do PSD" (nem quer ser...); a única coisa que existe é uma "recomendação" do PSD para que se vote em Rebelo de Sousa. Ora, se é assim, como é possível encontrar uma violação dos estatutos do partido no facto de Pacheco poder alinhar com outros candidatos?

10. Mas se a expulsão me parece um disparate, o mesmo não digo de Pacheco abandonar, ele próprio, o PSD. Já o devia ter feito há muito. Para não perder a coerência que sempre reclama para si.

11. Para o bem e para o mal, Pacheco sabe que a filiação num partido político é uma alienação parcial de liberdade. Não pode perorar o que lhe apetece e manter-se coerente: se, como diz, abomina certas coisas no PSD dos últimos anos deve, pura e simplesmente, abandoná-lo. Em coerência, repita-se. E sem nenhum juízo de valor.

12. Acresce que, hoje em dia, Pacheco já precisa do partido para muito pouco. E ele sabe-o. Limita-se a fazer o "finca-pé de ficar" para que o martirizem, expulsando-o.

13. O que Pacheco não pode querer é "sol na eira e chuva no nabal". Faz lembrar este PCP, que se prepara para estar com um pé no governo e o outro pé fora  dele (como, aliás, fez nos governos provisórios). Bem sei que a imagem é extremada, mas Pacheco, ficando no PSD, não pode querer ser do Benfica e ir festejar euforicamente golos do Sporting para a bancada dos sócios encarnados. As coisas não são assim.

14. Pertencer a um partido político (eu nunca pertencerei) tem custos - e para Pacheco também tem que ter: não pode reiteradamente defender o que repugna a esse partido. E é isso que faz.

15. Por último, não me venham com a prosápia de que os partidos devem ser "espaços plurais e de dissenso". Devem, mas há limites. E Pacheco já os passou a todos: detesta o PSD e vibrou publicamente com a solução de governo actual.

16. Em suma:
Gosto de Pacheco? Sim. Deve Pacheco ser expulso? Não. Deve Pacheco ser coerente e abandonar o PSD "pelo seu pé"? Seguramente.