No estudo da Universidade de Cambridge ("Public spending in the 20th century. A global perspective") que se pode consultar neste link, Vito Tanzi e Ludger Schuknecht ofereciam, em 2000, uma belíssima perspectiva (global) do que foi a evolução da despesa pública nos países desenvolvidos ao longo do último século.
O interessante neste estudo é a conclusão de que o ritmo de crescimento (relativo - em função do PIB) da despesa pública não pode ter explicação nas guerras ou no crescimento da população, mas sim, sobretudo, na evolução das perspectivas sobre qual deve ser o papel do governo nas economias estaduais ("changes in public expenditure levels largely followed changes in attitudes toward the role of the state and changes in the institutions which constrain government intervention in the economies").
Significa isto que os autores apontam as concepções económicas e ideológicas de cada momento como as responsáveis pelo ritmo do aumento quantitativo da despesa e pela evolução da sua composição qualitativa (a respeito da qual se constata uma progressiva diminuição das despesas-compra - em bens e serviços - em detrimento das denominadas despesas-transferência - grosso modo, subsídios).
Interessante é também que, em 2000, os Autores predissessem (em linha com a evolução que surpreendem a partir de finais da década de 80) que a despesa pública teria, nos Estados desenvolvidos, que inverter a sua tendência de (aparente) inexorável escalada (como sugere a famigerada Lei de Wagner). Os acontecimentos de 2008 e dos anos seguintes parecem desmentir a previsão - digo eu (graças às gigantescas ajudas que tiveram que ser prestadas, na Europa e nos EUA, ao sector financeiro) - apesar do curiosíssimo choque com as concepções economicamente hoje dominantes, que em tudo parecem querer fazer vingar a forçosa abstenção do Estado relativamente a papéis que nos habituou a desempenhar.
Em suma: uma óptima leitura (também pelo rigor da perspectiva histórica), sobretudo se enquadrada com dados relativos ao crescimento (também relativo) da dívida pública, porque a despesa, já se sabe, tem que ser financiada de algum modo.
Fica, pois, aqui a evolução da dívida portuguesa em parte do mesmo período: