Depois do silêncio de Agosto, que o beneficiou enormemente (na mesma medida em que lucrará de cada vez que se eclipsar), António José Seguro veio partilhar connosco, no estilo confessional que artificialmente se dedica a imprimir a tudo o que diz, que "ficaria triste se o primeiro-ministro do meu país fosse receber ordens da senhora Merkel ou do senhor Sarkozy".
Desconheço se o lamento foi proferido com beicinho e lágrima ao canto do olho. É possível.
De qualquer modo, há meia dúzia de coisas que deverão servir para descansar Seguro.
Ei-las:
1) O meu caro amigo não sabe - porque andou nos últimos anos atarefadíssimo a ouvir militantes e a preparar-se para ser líder - mas já há muito tempo que os nossos primeiros-ministros recebem ordens de Berlim e de Paris. É uma espécie de fado que descobriria um dia, caso se tornasse o nosso primeiro.
2) O seu camarada José Sócrates especializou-se, aliás, nesta área, com notáveis méritos (e assinaláveis progressos no Inglês técnico, já que o alemão e o francês são de outro tempo). Ora, se o camarada Sócrates alinhava nisto, que razão haveria para preocupações?
3) Não obstante incómodos resultantes de perdas de soberania, convém sempre lembrar que líder do PS que se preze é europeísta convicto - uma imagem que, tal como propôs no debate televisivo que teve com Francisco Assis (aquele que "fala muito bem"), deve ser mantida e reforçada com chás e cafézinhos em périplos europeus.
4) Por último, uma reflexão a registar no caderninho que exibiu a Assis e que sabemos que o acompanha sempre (registando dúvidas, propostas e anseios "dos militantes e das militantes"): não será apesar de tudo melhor que sejam os alemães e os franceses a tomar as decisões, de modo a que estraguemos o menos possível, dada a nossa incontrolável queda para a asneira? Se calhar...
De qualquer modo, o que queremos é que esteja descansado. E contente - nunca triste!
Estaremos sempre ao dispor.