sexta-feira, 25 de março de 2016

Certezas matemáticas

É das poucas coisas na vida em que vigora a certeza matemática. Nunca falha.
Já tive a felicidade de trabalhar em vários locais, com imensas pessoas. Nos primeiros dias (e há testemunhas!), apenas catalogo de imediato um único género de sujeitos e de sujeitas, para os quais fico logo precavido: os que se revelam, sem notarem, pelos maus modos com que tratam os subalternos.
Na Europa, na Ásia, funciona sempre.
Normalmente meus "colegas", com as mesmíssimas funções, há um exército de idiotas que destrata os "funcionários", as "assistentes" (ou os "assistentes", embora estes sejam raros nos escritórios) e os membros do "secretariado".

É infalível: ou são autênticos débeis mentais, ou pertencem ao núcleo dos "esforçados".
Um "esforçado", apesar de cumpridor, tem zero de criatividade, é incapaz de fazer só por si e depende do rasgo e iniciativa dos outros para sobreviver (pelo que passa a vida a copiá-los). Como "sabe tudo" (a admissão da ignorância é uma qualidade que escasseia) tem como único propósito agradar ao "chefe".
É um mimo, porque normalmente o "chefe" tem um sexto sentido que o faz sentir uma certa repulsa por esta gente. Deve ser uma alquimia abençoada.

Vários anos a experimentar isto levaram-me a ser especialmente observador destas características na escolha das pessoas com quem trabalho. Quando posso escolher, claro.
O idiota que maltrata os que estão abaixo dele merece um tratamento implacável. Não que alguma vez vá aprender ou arrepender-se (é um defeito de carácter que não se corrige), mas impõe-se que se abatam sobre ele todas as maleitas e fúrias do capitalismo (que, aliás, servilmente aceita, sem hesitar ou questionar).
Não é apenas uma questão de não tratar mal os que estão funcionalmente "abaixo". É uma questão de os tratar especialmente bem.
É isto que é (e deve ser) revelador.

A única regra a seguir é nunca - em circunstância alguma - confiar neste exército de mentecaptos que faz abater o seu mau génio (aliás postiço) sobre os subalternos (exibindo simultaneamente uma enternecedora candura perante o "chefe").
Tudo porque são capazes de vender a mãe e oferecer a avó de brinde.

Mas o mais espantoso é a transversalidade desta prática: vi-a na Universidade (onde comecei a dar aulas novíssimo, com 24 anos e, confesso, me fazia alguma impressão o modo quase servil como éramos tratados por alguns), em escritórios de advogados, em empresas, em quase todo o lado. E há certamente muitos sítios, que nunca conheci, onde o mesmo fenómeno existe.
O denominador comum é a mania destes indigentes que pensam que "os piolhos comem alface e andam de avião".

Às vezes, fora o escárnio, chegam a dar pena.
É que, como que por justiça divina, acabam sempre mal. Ou logo, ou depois.
De facto, "quem nasce lagartixa nunca chega a jacaré".
Espera-se.