quarta-feira, 6 de julho de 2011

Quem ri por último...!

Ninguém aguarda com mais expectativa o desenrolar dos acontecimentos na Grécia do que os ingleses. Muito à maneira anglo-saxónica, reservam-se as palavras para a  altura mais adequada e sobejam expressões ‘Cheshire cat’ por todos os corredores políticos e económicos. O que é interessante e sobejamente comentado pelas classes menos informadas é que o default  grego é tido como inevitável  e até já visto como uma realidade actual. No entando, o que divide  a opinião  dos ingleses é se isto significará também a morte anunciada do Euro. Alguns, vêem mesmo  aqui a oportunidade para declarar a morte da União Europeia.
Esta matéria tem especial relevância tendo em conta a sempre difícil relação  dos habitantes da velha Albion com  o "Continente" - é assim que se referem normalmente à Europa.  Se, historicamente, foram sempre acérrimos eurocépticos, na prática, os ingleses têm tirado o melhor partido possível de um casamento de conveniência que já dura há décadas. O espantoso é que,  neste momento, é difícil encontrar  "Europhiles" em qualquer dos três partidos políticos, que defendam  a ajuda  económica (bailout) aos PIGS - um anagrama que prevalece desde a crise financeira, mas que, recentemente, foi alterado para GIPS, em razão da ordem dos acontecimentos.
Do dia para a noite, parecem ter desaparecido da esfera pública  os mais acérrimos defensores  da causa europeia, tal como Martin Kettle (que  declarou  num artigo do Guardian  que “the EU is finished”). Longe estão os sorrisos menos ‘Cheshire’  e apertos de mão dados na altura da ratificação do tratado de Lisboa e mais difícil parece ficar a dita relação dos britânicos  com o "Continente".
Enganam-se, no entanto, aqueles que subestimam a capacidade dos políticos de actuarem mesmo contra os interesses nacionais e, neste caso, a maior parte da classe política europeia  quer a sobrevivência do Euro (a qualquer preço). O que a crise grega verdadeiramente revelou foi que a União Europeia se depara com uma decisão bem mais importante do que o bailout  da Grécia. A verdadeira questão é que tipo de  "Europa" será criada depois do rescaldo da presente situação. Não querendo ser tão radical quanto alguns, que adivinham a transformação da actual Europa numa versão do antigo decadente Sacro Império Romano, a verdade é que  a crise do Euro deixa  em aberto um momento esplêndido para os britânicos debaterem o que há muito tempo querem: uma área de livre comércio com mais liberalização e menos integração, e um orçamento menor para a UE.
Enquanto a eurozona se debate com a fiabilidade do sistema monetário e se aguarda a morte provável do Euro, a velha demanda empírica  britânica parece ser, contudo, a mais certa para os demais observadores e, pelo sim pelo não, aqui fica um conselho: vão comprando libras!
AM