quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Com a devida vénia, o "mestre da táctica": Luís Marques Mendes


Terem querido chamar a Jorge Jesus o "mestre da táctica" foi das maiores injustiças que se fez neste país. Verdadeiro "MESTRE DA TÁCTICA" há só um, e mais nenhum: chama-se Luís Marques Mendes.

Cada cartada de Mendes podia ser um livro de Sun Tzu para ler antes de ir dormir. Pena que não tenha ido a tempo: a "Arte da Guerra" só teria a ganhar em ter bebido da sapiência táctica e estratégica de Marques Mendes.

Nunca se viu Mendes perder num único tabuleiro, numa única batalha. E a sua mestria táctica (a mesma que justifica que deva agora ser ouvido por tudo e todos nos seus comentários) não conhece par. É, pois, com inteira justiça que nos ensina hoje, num estilo superior ao de Marcelo Rebelo de Sousa, o que fazer em cada situação da política ou, em geral, da vida.

Na verdade, os conselhos que vai dando a cada líder político nas suas habituais preleções deviam ser sempre seguidos à risca e é uma pena que nem sempre o sejam.


Luís Marques Mendes licenciou-se na Faculdade de Direito de Coimbra. Como já na altura corria, um pouco por todo o lado, o rumor de que era absolutamente brilhante, optou, inteligentemente, por não se fazer notar, de modo a não dar nas vistas. Por isso, licenciou-se com uma nota de que ninguém se lembra, de modo a que nada pudesse toldar um futuro que, já à época, se adivinhava brilhante. Era logo aqui a prudência táctica que aconselhava este passo. E eram os primeiros augúrios de uma inteligência luminosa e da apetência pelo Direito e pelo justo.


Ainda se estava longe da genialidade da adesão ao "body board" (para, noutra jogada fulgurante, fazer aderir os "jovens" e garantir a visibilidade dos bonecos da "Mandala"), mas Mendes seguiu, imparável, para Fafe, onde, de 1977 a 1985, foi vice-presidente da Câmara Municipal, a mesma edilidade que já tinha sido presidida por seu pai. Era enfim, noutra cartada digna de compêndio, o sempre necessário "regresso às origens": para ganhar calo e crescer, adquirindo preparação para os tremendos desafios que se avizinhavam, à escala do país, da Europa e do mundo.

Dali, Mendes partiu para não mais voltar, sempre com o fito na estratégia perfeita e colhendo sempre os resultados que dela advêm.

Em alinhamento impecável (que ainda hoje não esquece nos seus portentosos comentários políticos), Mendes foi porta-voz dos governos de Cavaco Silva e, inúmeras vezes, deputado. Bem como ministro, claro: por exemplo, de 2002 a 2004, foi ministro dos assuntos parlamentares e, noutra jogada de mestre, teve Rui Gomes da Silva como sucessor, nunca descurando, como verdadeiro estratega, quem lhe sucedia.

Mas isto foi num passado luminoso e sempre pleno de visão. Estava na forja um homem capaz de dar os melhores conselhos (por isso é, de resto, actual conselheiro de Estado de Cavaco), delineando as mais perspicazes estratégias.


Depois, veio o desafio mais importante da sua carreira política: ser líder do PSD, entre 2005 e 2007, período em que todos puderam aperceber-se do seu imbatível domínio das "bases" do partido, pelo qual já era, aliás, famoso.
O epílogo desta manobra revela, uma vez mais, interminável sagacidade: dono do partido e das "bases", limitou-se a perder propositadamente a liderança do partido para Luís Filipe Menezes - um adversário de peso - de modo a que todos ficassem a pensar que não estava farto daquilo. Mas estava. De outro modo, jamais poderia ter perdido, ou não fosse ele o "mestre da táctica".
Claro que convém não esquecer que a intenção foi também, naquela altura, a de trazer valorosos homens como Ribau Esteves à ribalta, já que este se tornaria no proeminente secretário-geral do PSD escolhido por Menezes.

Mesmo os remoques, em 2005, de Belmiro de Azevedo foram tratados com a característica mestria e contornados com classe. De facto, quem é que hoje se lembra que Belmiro disse que Mendes "não servia sequer para porteiro da Sonae"? Certamente, ninguém. E tudo porque Mendes, uma vez mais, em manobra de lente, soube apagar da memória colectiva o comentário mordaz. Simplesmente brilhante outra vez, como já haviam sido fantásticos os tempos do "Plateau", em que, fazendo incontáveis "amigos" por lá, aprendera a fintar, em antecipação sempre bem informada, o "pânico das sextas-feiras" dos tempos de "O Independente".


Entretanto, já ligado, enquanto "consultor", à "ABREU ADVOGADOS", Marques Mendes fez do "comentário político" a sua arte de eleição, que exercita também no Conselho de Estado.

Sempre certeiro, sempre sem dar tréguas, sempre avesso a interesses, nunca transmitindo recados. Dos "Vistos Gold" ao Benfica, do BPN à moralidade, do "caso BES" aos livros que acabaram de sair, da composição dos governos aos desportos radicais, da saúde aos eventos sociais, dos helicópteros Kamov às telenovelas, do Direito Constitucional ao futsal, o "shorty" (como era chamado carinhosamente por alguns) tem sempre a bondade de nos explicar tudo - e agora na SIC, em apenas 25 minutos semanais.
Porque sabe bem - muito bem - do que fala. E, sobretudo, do que não fala (e que tem tanto significado - ou mais - como aquilo de que decide falar, tal como alguns exemplos acima comprovam). Tudo porque, com Mendes, o que não é dito está forçosamente implícito.


Impoluto, clamou, desde o início, por uma mudança moralizadora de hábitos e de costumes na política portuguesa, sempre impermeável a jogos de bastidores: como fez com Isaltino Morais e Valentim Loureiro, ainda que estes fossem "incómodos" para si no PSD (mas o que só fez aumentar a genialidade do afastamento e ostracismo a que Mendes, desinteressadamente, os votou).

Com ele, o passado ficou lá atrás. Sempre uma vez por semana, sem contraditório possível (que, mesmo que existisse, seria dispensável, por ser despiciendo), para acabar com tudo o que é "trapalhada" (para usar a palavra que tanto gosta de dizer).


Explicando tudo em palavras sobejamente acessíveis ao comum dos mortais, Marques Mendes dedica-se, todas as semanas, pacientemente, a desnudar ao povo as voltas da grande política, de que agora não quer fazer parte, por ser avesso a protagonismos. Multiplica-se em telefonemas e atende sempre quando o seu telefone toca: só por amor às explicações de que os cidadãos carecem. E pelas quais, obviamente, anseiam.

Do alto do seu pensamento esclarecido, Mendes explica quais são as "trapalhadas" que interessa esclarecer, porque é que Cavaco age como age e quais são as suas opções nos actuais "cenários", porque é que Catarina Martins fez, em 2015, a melhor campanha das legislativas.


Peguemos, de resto, neste último exemplo: alguém percebeu, nos comentários feitos antes das legislativas deste ano, que Mendes pretendia, com os elogios rasgados e repetidos feitos a Catarina, impedir o voto útil no PS? Claro que não.
Foi outra vez brilhante. Ninguém jamais se aperceberia que o objectivo era fixar votos no BE, de modo a que o PS ficasse atrás da PAF.

Dir-se-á: "pois é..., mas a influência dos comentários de Mendes é tamanha que fez com que o BE tivesse um resultado estrondoso", tornando a "maioria de esquerda" no Parlamento mais virada... para a "esquerda radical"!
No entanto, quem diga isto não acompanha novamente o raciocínio vertiginoso de Mendes. É que com os elogios a Catarina Martins, Marques Mendes já estava, outra vez, a ver "para além da curva": o que, na verdade, pretendia era que houvesse uma coligação de "esquerda" a governar (por 6 meses ou pouco mais) para que, depois, o seu PSD regressasse triunfante, com maioria absoluta evidente. Get it, folks?

Como em muitas outras coisas, isto é apenas revelador de pura vidência, quiçá influenciada por um outro talento de Fafe - o do "bruxo" - em mais um regresso às origens.

E que dizer quando tem que falar sobre si? O modo apaixonado e simples com que declara "quem não deve, não teme" não deixa nenhuma dúvida.




Seguindo as pisadas de Marcelo Rebelo de Sousa (sua eterna fonte de inspiração e glosa), mas com brilhantismo acrescido, Marques Mendes é o novo dono do comentário político. Sem competidores à altura.



É tão genial e maravilhoso, que aposto que temos aqui Presidente da República para um dia feliz que ainda vai nascer. Talvez até melhor do que Cavaco, se se sujeitar ao enfado de ir a votos, já que a vitória, essa, como sempre, está garantida.
Valha-nos isso.


PS - Escrevo de longe: aqui de Macau (na China...). Mas não faz mal. Porque o fulgor da sabedoria de Mendes não conhece fronteiras.