domingo, 15 de novembro de 2015

Paris e a guerra

Tenho a malapata de tentar sempre compreender os dois lados do mesmo tabuleiro. Mas, para isso, e para que possamos compreender, é sempre indispensável que um mínimo de comunicação (e, logo, de tolerância) seja possível.

Em geral (e, portanto, com muitas excepções), não gosto dos franceses dos últimos 100 anos: sempre me irritaram os tiques xenófobos e de pretensa superioridade de quem foi conquistado pelos alemães em três semanas.

Ditas estas verdades sem pudor - e sem os males do "politicamente correcto" - sinto-me no direito (que é de todos) ao disparate. Aqui vai.

O que se passou agora em Paris não tem nome. Como já não tinha nome o que se vinha passando antes de Paris.
O problema não é só o de que não se trata apenas de um acto de guerra suja. O problema é que se trata de um acto de guerra bárbara praticado, de olhos abertos, por delinquentes.

De delinquentes sem hipótese de ressocialização. Sem hipóteses de alguma vez compreenderem.

A verdade crua não está na superioridade do "Ocidente" (seja lá o que isso for) perante o Islamismo radical. Está na vergonha em assumir essa superioridade evidente. A superioridade da tolerância face ao radicalismo autista.

Sei bem de toda a prosápia das explicações para o radicalismo islâmico (e lembro-me logo de Boaventura). Sucede que não quero saber. E não quero saber porque sei que não há a mínima hipótese de que a cegueira do radicalismo termine em abertura para a hipótese de um diálogo mínimo - só para que tentemos compreender-nos uns aos outros.

Para mim, o secularismo é uma vitória decisiva sobre o estado mais primitivo. E é impossível conversar com quem faz da religião (ainda por cima erigida numa interpretação aberrante do Corão) o modo de castrar liberdades e chacinar inocentes.
Já cá tivemos isto. Mas ultrapassámos a coisa.

Mascarados de ninjas e de faca na mão, estes idiotas (para ser simpático) decapitam quem lhes apetece. E de Kalashnikov em punho e com bombas à cintura, sem dizerem palavra, matam quem estiver a jeito. Sem ponta de mágoa, com total autismo, sempre gritando por um género de Alá que nunca existiu.

Pouco me importa, neste estado de coisas, que a culpa possa ser dos "ocidentais". Ou por terem criado esta gente, ou por se terem servido dela, ou por a terem ignorado demasiado tempo.
O que me importa é saber que o resultado será sempre o mesmo: nunca - mas nunca - haverá do lado do Daesh um esforço para ouvir, para falar, para compreender. Concluo, pois, que não interessa quem criou ou manteve o monstro: é preciso eliminá-lo.

É este resultado inelutável que me faz querer guerra com eles. Já.

Esta barbárie das cavernas destruiu uma cultura milenar, apoiando-se na cegueira do que não é o verdadeiro Islão, contra o qual nada tenho contra.
Esta barbárie - em razão da sua profunda intolerância ignorante - não vai parar. E merece uma coisa que poucas vezes tem justificação: guerra.

Defendo, há muito, que um dos males da "Europa" é não ter um verdadeiro inimigo. Ao menos, que seja capaz de ter este.
E se Kim Jong Un quiser juntar-se na empreitada, que esteja à vontade.

Numa guerra cometem-se sempre erros? Sim, decerto.
Mas chegou o tempo de que eles sejam cometidos. Contra estas avantesmas.