Parece que ainda restam muitos defensores da ideia de que a RTP não deve ser privatizada. E consta que Paulo Portas lhes é sensível.
Pelo que me pude aperceber, já só é a (suposta) necessidade do famigerado "serviço público de televisão" que resta como argumento aos arautos desta ideia genial.
Que o Estado esteja falido (sim, falido) e que a lição destes tempos seja sobretudo a de que não é possível viver acima das possibilidades (muito menos sustentando luxos patentemente supérfluos) é coisa que não parece impressionar esta gente.
Sendo assim, é escusado lembrar - porque quem defende a RTP pública não quer ouvir - que esta empresa custa centenas de milhões de euros por ano aos cofres estaduais, que os contribuintes zelosamente pagam.
Como é escusado recordar que a RTP integra o lote das 10 empresas públicas que concentram 90% das responsabilidades financeiras geradas pelo famoso "sector empresarial do Estado" (SEE), cujo volume total ascende a qualquer coisa como ao equivalente a quase 10% do PIB (isto que se saiba, claro, porque, no que ao SEE diz respeito, as surpresas são inesgotáveis).
A única opção que resta é, pois, explicar que a RTP, hoje, não presta "serviço público" algum.
O único serviço que presta é desinformar e deformar.
A RTP desinforma porque, tal como anos infindáveis já provaram, nada rivaliza com ela em matéria de obediência cega aos poderes que estejam instalados: se o governo é "rosa", os decrépitos telejornais são insuportavelmente rosados; se o governo é "laranja", os paupérrimos conteúdos informativos são incontornavelmente alaranjados. Jornalistas apavorados com a influência de quem, no momento, manda são o ingrediente certo para programas de informação que ninguém consegue ver; entrevistadores subservientes em função do que dita a conjuntura política falam por si, e não há quem suporte ouvi-los.
Nem me venham com o argumento de que a inexistência de um "serviço público de televisão" gera o risco de os canais privados (alguns, hoje, a informar 24h por dia) poderem monopolizar tendenciosamente a "informação". É que se o problema é este, a solução está, obviamente, em gastar um vigésimo do que custa a inefável RTP, dotando uma autoridade reguladora séria de meios capazes e poderes efectivos.
Mas a RTP não se limita a desinformar. A criatura deforma, porque não é possível que os espíritos e os gostos fiquem incólumes perante a grelha da programação que os canais públicos, ano após ano, vão servindo. Neste ponto, abstenho-me de exemplificar: já ninguém conhece os programas, de tão fracos que são. Claro que vale aqui a consolação de que os canais privados não oferecem, em geral, melhor prato. Porém, há um pormenor que não é de somenos: não somos nós a pagar.
Já sei que a argumentação seguinte passa por afirmar que tudo o que ficou dito não é falso, mas que a conclusão a tirar é a de que, então, o que efectivamente necessitamos é de uma "outra RTP", que verdadeiramente cumpra a sua "missão" de "serviço público".
Puro engano. E demasiado caro.
É impossível pretender, num país com a nossa cultura e as nossas tradições, que as coisas mudem, em tempo útil, no que toca à subserviência que os funcionários do Estado precisam de manter face a quem os dirige.
É inútil acreditar na ideia de que algum bom gosto se imporá na programação - não é dele que as pessoas estão à procura e (honra lhes seja feita) são elas que decidem o que querem (e, portanto, devem) ver.
É, por isso, que privatizar a RTP é absolutamente necessário: porque, como as coisas estão no país e atendendo ao que o monstro custa, é absolutamente evidente que não há outra opção racional. Isto, sobretudo, quando está sobre a mesa - como hoje está - a hipótese de se privatizarem empresas que exploram monopólios naturais.
O que me preocupa, aliás, é que haja esse pormenor desagradável (e nunca descurável) quando se privatiza: é preciso que alguém queira comprar.
Se ninguém quiser comprar, então não vendam. Fechem, muito simplesmente: desmontem e vejam-se livres das peças! - o mercado publicitário já fica agradecido (depois de tantos anos saturado e distorcido). O país e os contribuintes também.
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