sexta-feira, 17 de junho de 2011

O peso de Gaspar

O novo ministro de Estado e das finanças chama-se Vítor Gaspar.
Uma pesquisa rápida inculca que o homem tem um currículo académico e técnico prestigiante. A pesquisa foi mesmo necessária - e nisso não há mal algum - porque o grau de notoriedade mediática da personagem era nenhum (o que até pode ser bom augúrio).
Certo é que a política monetária da UE é dos temas que mais estudou e que os corredores de Bruxelas lhe são familiares: ingredientes necessários para os tempos que correm.


Vítor Gaspar dar-se-á a conhecer como ministro rapidamente, dada a urgência das primeiras decisões que terá que tomar (e saber explicar), pelo que é escusado tentar antecipar qual será o seu desempenho. Travaremos conhecimento apertado com ele a muito breve prazo.

O que há para registar neste momento é a incontornabilidade de uma evidência: Passos Coelho decidiu entregar a pasta mais sensível e relevante deste Governo a alguém cujo currículo político equivale a zero. E cuja influência e experiência políticas são igualmente nulas.

Estou convencido de que este Governo, ao contrário do que parece óbvio, beneficiará de algum estado de graça (pelas razões que expus aqui), mas isso carecerá de um desempenho minimamente aceitável no domínio da comunicação e gestão políticas de todos os acontecimentos que se avizinham.
Aquilo que teria sido uma aposta certamente louvável em outras circunstâncias - uma lufada de ar fresco centrada na competência estritamente técnica - pode, na conjuntura actual e na que se segue, não se revelar a melhor cartada. A estrita competência técnica e científica poderia ter ficado reservada como critério para a escolha dos Secretários de Estado do ministério, em complemento da opção por um ministro com grande peso na área financeira, vasta margem de manobra política e não menor influência. Com peso num Conselho de Ministros (bicolor) que passará a vida a exigir-lhe dinheiro (e cada vez mais, dia após dia).
Passos Coelho ou escolheu caminho diverso, ou viu-se forçado a escolhê-lo.
Veremos o que isto dá.
E é bom que funcione.