Paulo Portas, no domingo à noite, suspirou de alívio. E entrou imediatamente em depressão.
O suspiro de alívio deveu-se ao facto de o PSD não ter obtido a maioria absoluta, cenário que às oito da noite não era totalmente inverosímil. A depressão justifica-se por uma razão simples: a realidade deprime.
Para lá de ter acedido ao Governo, o que sempre deixa Portas indisfarçadamente cheio de si próprio (o regozijo detecta-se facilmente na sua expressão facial: basta olhar para a sua aparição televisiva de segunda-feira de manhã), o líder do CDS (como ele gosta agora de chamar ao partido) não escapou ao choque de quem se vê confrontado com os seus limites. Limites que, no caso, esmagam a sua ambição.
É que Portas descobriu, Domingo à noite, o que já sabia mas teima em ignorar: o seu estimado CDS, que praticamente se confunde com a sua figura, jamais superará, nos tempos próximos, o resultado que alcançou a 5 de Junho. Ora, isso é muito pouco. Pelo menos, para o que Portas planeia para si.
Desta vez, o CDS-PP tinha tudo de feição: os dois últimos anos de oposição tinham-lhe corrido mediaticamente bem, a conjuntura política tinha-lhe permitido escapar à armadilha da aprovação necessária dos 3 primeiros PECs, o grupo parlamentar tinha lançado algum charme, o PSD, titubeante, tudo tentou para torpedear Passos Coelho (antes da fase decisiva da campanha ter arrancado) e o Governo de Sócrates, moribundo, estava manifestamente a jeito para que Portas pudesse pontificar com a pele que mais gosta de vestir. Acresce que o desvario financeiro do país é compatível com as intenções de voto mais conservadoras e permitia ao CDS magnetizar também (o que só aparentemente é paradoxal) algum do "voto de protesto".
Tudo - ou quase - em vão: face a 2009, o crescimento do partido foi, afinal, irrelevante. Três deputados a mais não alteraram a relação de forças perante o PSD. O aumento do score percentual é inexpressivo. E o CDS revelou que não é capaz, mesmo nas condições ideais, de alargar decisivamente a sua base de apoio.
Quem estava no Largo do Caldas no Domingo à noite não conseguiu, pois, disfarçar sorrisos amarelos. Portas também não. Justificadamente: Portas sabia que esta era uma oportunidade única para "dar o salto", para tornar a sua força incontornável para o futuro. E sabe que falhou. Pior: sabe que, em princípio, falhará sempre. Fatalmente.
Com efeito, Portas percebeu o que se recusou sempre a aceitar: que está cercado, emparedado, por dois obstáculos inamovíveis.
De um lado, o eterno inimigo, que é o PSD: se este estiver forte, no governo ou na oposição, o CDS jamais crescerá. O voto útil, em qualquer dos casos, não dará tréguas a Portas (como agora, no segundo cenário, se comprovou).
Mas se o PSD estiver fraco, isso significa que o Governo está prestes a ser PS, o que afasta o antigo "partido do táxi" da possibilidade de se afirmar como "alternativa", ou de polarizar o "voto de protesto" (um PS forte coloniza ambos os espaços, até por isso ser mais fácil ao centro-esquerda).
Curioso é que esta percepção coloca o CDS (faça-se justiça ao nome do partido), efectivamente, no CENTRO: não no que diz respeito ao espectro ideológico, como Freitas sufragava (aí o CDS está à direita do PS e do PSD). Antes, sim, no que toca ao "arco do poder" - entre PS e PSD (e, por isso, no centro), implacavelmente esmagado pelos dois, e sem possibilidades de se expandir.
Life sucks, my friend!
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