Daniel Oliveira, no arrastão, continua hoje o folclore iniciado pelo artigo de Pezarat Correia (agora, entretanto, publicado).
O artigo de Pezarat nunca foi, como alguns disseram, censurado. Não foi, a princípio, publicado: um jornal não tem que publicar todos os artigos de opinião que lhe são enviados. O juízo de não publicar é criticável. Mas não arrisca ser apodado de censura.
Daniel Oliveira, com a lucidez do costume, não imputa o pecado censório ao jornal em causa. Mas adere à opinião de Pezarat: na essência, Portas não poderia voltar a ser ministro depois de ter dito que "viu" as provas da existência de armas de destruição em massa no Iraque, muito simplesmente porque tais armas nunca existiram. Portas teria, pois, mentido e, em consequência, ficado inibido, para sempre, de desempenhar altos cargos na nação.
Ora, é aqui que Pezarat e (por arrasto) Daniel Oliveira não têm razão.
Não têm razão porque sabem que um ministro da defesa nem sempre pode dizer a verdade, justamente em honra aos superiores interesses do país. No caso, podia estar em causa uma justificação deste tipo.
Depois, porque não vale a pena brandir argumentos que tresandam a um puritanismo exacerbado: na Europa, e em outras partes deste mundo, foram vários os que juraram que havia as tais provas.
Porém, o que fundamentalmente é decisivo para que a argumentação não proceda tem a ver com a parte da "mentira" (que é o cerne da questão).
Portas disse que "viu" as "provas".
Quem pode garantir que, ao dizê-lo, estava a "mentir"? Em bom rigor, ninguém: as "provas" que Paulo Portas diz ter visto podem ter sido forjadas (e lembro-me que Collin Powell, na ONU, apresentou algumas, em versão vídeo). Basta ter ocorrido isto (o que é bastante plausível) para que Portas fique absolvido da infracção que tanto impressiona Pezarat e (agora) Daniel Oliveira.