segunda-feira, 6 de junho de 2011

O debate decisivo

Nesta campanha eleitoral, tudo parecia indicar que os debates televisivos, por pior que fosse o seu formato, seriam decisivos. E é agora a altura para falar neles porque a crítica já pode ser mais objectiva.
Só quatro debates verdadeiramente interessavam: Portas vs Passos; Sócrates vs Portas; Louçã vs Sócrates; e, sobretudo, Passos vs Sócrates.
Excluo da série todas as contendas em que foi interveniente o camarada Jerónimo de Sousa, porque (por mais simpático e bonacheirão que o homem seja na televisão) já se percebeu que não há tédio maior do que vê-lo a discutir com alguém - essa será até, porventura, uma das suas maiores armas (a suavização do PC através da complacência que o tédio gera nos antagonistas) e uma das causas para a solidificação quase absoluta da base eleitoral da CDU. A comprovar isto mesmo, recorde-se o soporífero debate do mês passado com Louçã, o único que podia ser relevante para Jerónimo.
Os primeiros 3 debates eram importantes por razões diferentes.
No Portas vs Passos e no Louçã vs Sócrates jogavam-se as arrumações óbvias na geometria eleitoral: tratava-se de saber em que medida podiam ficar definidas as transferências de voto mais evidentes. No Portas vs Sócrates, o interesse residia na habitual boa performance dos dois contendores e na possibilidade de Portas, com algum élan eleitoral, sobressair (por comparação com Passos) como cabecilha do movimento de desinstalação de Sócrates.
Antes do debate decisivo, nada de verdadeiramente extraordinário ou surpreendente sucedeu. Nada que tenha tido verdadeira magnitude para ser decisivo em termos de oscilações na tendência de voto. Ainda assim, Passos passou um mau bocado com Portas. E Louçã, desta vez, não deixou (como em 2009) que Sócrates o chacinasse. O mau desempenho de Portas face a Sócrates foi talvez a maior surpresa, atenta a força do CDS nas sondagens e, porque não dizê-lo, atendendo ao estado do país.
Dada a impotância destas eleições para o futuro de Portugal e com os estudos de opinião a indicarem "empate técnico" entre PS e PSD, a escaramuça entre Passos e Sócrates tinha todos os condimentos para ser de radical relevância. E foi.
Não vale a pena dizer que ninguém se saiu bem no debate. Ou que ninguém o viu.
O debate foi visto e teve um resultado: o fim da ideia-feita de que Sócrates não podia fraquejar num debate televisivo.
Não houve uma supremacia clara de Passos. Mas isso não era necessário. Bastava-lhe estar acima do que era esperado e garantir uma boa ponta final. E foi isso que aconteceu, com Sócrates, já nas cordas, visivelmente desagradado, a repetir incessantemente, à falta de melhor: "O senhor só sabe dizer mal do país!". Pergunta-se: quem é que, nesta altura do campeonato, não diz?
Dir-me-ão (como se disse na altura): Passos não "ganhou" o debate. Eu respondo: é possível, mas só precisava de não o perder. E não perdeu, sendo isso absolutamente decisivo para o desfecho eleitoral.
Não quer isto dizer que Passos tenha ganho directamente votos, roubando-os ao PS, com a sua prestação. Não creio sequer que isso fosse possível, logo à partida. Mas, perante quem já admitia a hipótese de votar PSD, ficou assente que essa não era uma opção descabida. E isso permitiu aos laranjas ganharem fôlego para a recta final da campanha e ganharem peito para abordarem os (muitos) indecisos.
Paulo Portas é que não deve ter gostado.

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