Desta vez, e bem ao contrário de 2009, o resultado eleitoral foi o ideal. Dentro do que era possível, claro.
Em 2009, logo na noite eleitoral, percebeu-se (e disse-se à boca cheia) que o governo acabado de eleger, com Sócrates e sem maioria absoluta, não duraria dois anos. Era tão óbvio que metia dó, porquanto o país precisava desesperadamente, já nessa altura, de um governo firme, com espaço de manobra e capacidade de decisão. Tudo porque a crise económica, já então, era profunda e evidente.
Portugal, porém, preferiu ignorar o óbvio e adiar o inadiável: uma solução de governo que, efectivamente, pudesse decidir e tomar medidas com um mínimo de celeridade.
Em 2009, Sócrates apenas deveria ter ganho, dada a ineficácia de Ferreira Leite, caso a vitória fosse suficientemente larga para garantir a maioria absoluta: era manifesto que Sócrates seria absolutamente incapaz de governar em outras circunstâncias. E era também certo que jamais se entenderia com alguém, de modo a viabilizar a sua acção governativa, porque o seu messianismo ignorante e a bestialidade da oposição a isso obstavam. De forma liminar, acrescente-se.
Agora, os resultados foram mais auspiciosos (em termos de estabilidade pura e simples - esclareça-se). Para bem do país (que pior não podia estar).
O PSD teve uma vitória robusta, ligeiramente acima das expectativas (38,6%). Está assim legitimado - e sem mácula - para governar. Sem mácula e sem desculpas.
Não existindo maioria absoluta de um só partido, não deixaremos de ter um governo maioritário, com capacidade de manobra e de decisão - e, o que é essencial, com força suficiente para fazer aprovar no Parlamento as medidas que a troika nos impõe (e que os portugueses manifestamente sufragaram, ao votarem esmagadoramente nos chamados "partidos da troika").
O CDS chegou aliviado ao fim da noite eleitoral.
Aliviado, mas contrariado.
Contrariado, porque Portas sabe agora que se não superou, desta vez, os 12% (11,7%, mais precisamente), muito dificilmente os superará alguma vez - o Governo PS estava de rastos e o PSD não estava tão forte e preparado que pudesse ser o predador ideal sobre o partido à sua direita.
Aliviado, porque Portas sabia que a armadilha do voto útil podia vingar, dados os cenários de "empate técnico": se o PSD alcançasse, sozinho, a maioria absoluta, o resultado do CDS, por mais amplo que fosse, saberia fatalmente a derrota.
Com os resultados de Domingo, o CDS pode cantar vitória (apesar de menos estridentemente, face ao que eram as expectativas de alguns): aumenta a sua (já considerável) representação parlamentar (em 3 deputados) e chega, uma vez mais, ao arco do poder (e disso só ele pode gabar-se, a par dos dois macro-partidos).
Teremos, assim, um governo maioritário. Largamente maioritário, como era estritamente necessário para o que aí vem. Não dominado por um só partido, o que lhe aumenta a base de apoio e limita (um pouco) os abusos que sempre resultam do domínio do aparelho do Estado por pessoal político de uma só cor.
Com um detalhe adicional muitíssimo importante: o resultado acima das expectativas de Passos Coelho e o score não tão forte de Paulo Portas evitam que o último possa esmagar o primeiro. É que, desta vez, Portas não estava disposto a ser tão cooperante como foi com Durão Barroso (e, depois, mesmo com Santana).
Ou muito me engano, ou a música, agora, ia ser outra.
Assim, é mais difícil. A estabilidade governativa agradece. E o país, que tanto precisa dela, também.
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