segunda-feira, 27 de junho de 2011

A verdadeira troika

Num dia em que se conheceram os secretários de estado e sensivelmente 10 dias depois de terem tomado posse os ministros deste governo de coligação, a grande questão interna com que Passos Coelho (sim, espera-se que seja ele) se vai debater será como gerir, com estabilidade e eficácia, ministros e secretários de estado oriundos de três realidades/sensibilidades completamente diferentes.

Vai ser necessário liderar, gerir e harmonizar 3 grandes grupos (a verdadeira troika):

1-      militantes do PSD;

2-      militantes do CDS-PP;

3-      independentes sem qualquer experiência política.

No primeiro grupo, foram impostos ao líder de governo alguns nomes que não geram consenso dentro do PSD, alguns inclusive tiveram que ser “encaixados” em pastas que não seriam por natureza as suas e contra algumas distritais do partido (ex.: distrital do Porto versus Aguiar Branco). Estes serão em princípio leais ao PM, mas tentarão obviamente impor as suas ideias/convicções aos restantes membros do Governo, até porque sentem que o resultado das eleições legitimou essa posição dominante. Acontece que foram colocados em pastas de menor importância estratégica e em ministérios que não terão folga financeira para implementar os seus projectos nesta fase de “caos económico-financeiro” que Portugal enfrenta.

No segundo grupo, a liderança será feita através de Paulo Portas, já que os nomes propostos pelo CDS-PP são companheiros de muitas viagens do líder do partido, e esse será porventura o maior problema para Pedro Passos Coelho: como influenciar, liderar alguém que já é liderado de forma tão intensa e competente por um político experimentado.

No terceiro grupo, residirá, provavelmente, o maior problema. Se a independência é vista pelos portugueses como um bom trunfo nos tempos que correm, como vai o nosso PM liderar um conjunto de pessoas com provas dadas no mundo universitário/empresarial, como vai impor as suas ideias quando elas não coincidirem com as convicções (de uma vida inteira) dos independentes, convicções que foram inclusive passadas por muitos deles para o papel (livros; blogues; revistas; etc.), como vai o PM evitar que afirmações despropositadas do ponto de vista político sejam proferidas por pessoas que não têm a tarimba necessária para lidar com os media (e quem não se lembra do caso Campos e Cunha)?

Admirei a coragem do PM na escolha do seu governo, mas como disse o novo (e ultra-elogiado) Ministro das Finanças vai ser preciso ter sorte, pois cada declaração proferida fora do contexto, cada medida anunciada de forma leviana e não exequível, custará muito dinheiro a Portugal. É que os investidores, depois de quinta-feira, vão ter os ouvidos virados para Portugal – e convém dizer aquilo que eles querem ouvir.

Assim, a missão não se afigura fácil. Mas esperemos que esta troika se entenda. Pelo interesse nacional, claro.
RSN