João Lemos Esteves, na sua Políticoesfera do Expresso online, brindou-nos ontem com mais uma das suas memoráveis pérolas (http://aeiou.expresso.pt/eu-desiludido-com-cavaco-silva-me-confesso=f655197).
A luminária, que há um par de semanas atrás, nos explicou, magnanimamente, que Sócrates venceu claramente o debate com Passos, vem agora confessar, preocupado, que está desiludido com Cavaco Silva.
É caso para perguntar: de que é que o menino estava à espera?
A interrogativa, porém, é inútil, porque o autor, depois de assumir ter votado em Cavaco, logo nos revela que, no seu superior entendimento, "o primeiro mandato foi mau; o segundo caminha no mesmo sentido". Ficamos esclarecidos: Lemos Esteves achou os primeiros 5 anos medíocres e, por isso, decidiu sufragar a recondução do homem que, agora, o "desilude".
Mas há mais. Ficamos também a saber que o desencantamento de João Lemos Esteves com o PR tem a ver com um feeling. Sim, um feeling.
O seu "feeling de que, com um governo PSD/CDS, Cavaco Silva muito, muito raramente irá suscitar a fiscalização de constitucionalidade de actos legislativos - e só em circunstâncias muito excepcionais (um diploma que é um total absurdo jurídico) vetará. Perante este cenário, somos levados a concordar com o entendimento popular de que estar Cavaco Silva no Palácio de Belém ou não estar, é a mesma coisa".
Palavras sábias e místicas.
Tradução: como o país está bem e goza de boa saúde (sobretudo financeira), sem precisar de estabilidade política, o João Lemos Esteves, depois de ter votado Cavaco a segunda vez, está decepcionado com a perspectiva de que o PR não entre em grandes regabofes de vetos e guerrilhas de constitucionalidade, fazendo frente ao novo Governo. Compreende-se: o PS está de rastos e, portanto, devia ser Cavaco a garantir a animação do comentário político (que o João, zelosamente, acha que faz).
De entre as preciosidades que o autor dá à luz, destaca-se ainda a seta (certamente mortal) que dirige ao PR: Cavaco deveria ter-se recusado a dar posse ao último Governo de Sócrates - que assim tivesse assegurado que o país não descansaria e que Sócrates ficava para sempre credor da "injustiça" que o afastara do poder são problemas menores. É que agora temos quatro anos de relativa paz (e, para o João, de tédio) ao virar da esquina.
Surpresa, ou talvez não. Também já tínhamos ficado a saber que a fiscalização da constitucionalidade de actos legislativos é para ser suscitada "dia sim-dia não". Senão, há razão para ficarmos decepcionados.
Mas o João, sempre prestável, não quer que fiquemos com dúvidas. E, por isso, alerta-nos: "Atenção: o problema não é os poderes do Presidente da República. É, isso sim, a interpretação que Cavaco faz dos poderes presidenciais constitucionalmente consagrados".
Obrigadíssimo.
Não votei Cavaco. Mas fiquei com vontade.
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